Homem e mulher criados à imagem de Deus

26 Também disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”. 27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra”.

Quero pensar com você esta manhã sobre três coisas que esse texto nos ensina. Uma é que Deus criou seres humanos. A segunda é que Deus nos criou à sua imagem. A terceira é que Deus nos criou homem e mulher.

É possível crer nessas três verdades e não ser cristão. Afinal, essas verdades são ensinadas aqui nas Escrituras judaicas. Portanto, um bom judeu que crê na Escritura aceitaria essas verdades. Mas, embora você possa crer nessas três verdades e não ser um cristão, todas elas apontam para o cristianismo. Todas elas imploram pela completude que acontece com a obra de Cristo. É sobre o que desejo falar a respeito, especialmente com referência à terceira verdade — que somos criados à imagem de Deus como homem e mulher.

1. Deus criou os seres humanos

Vamos analisar a primeira verdade: os seres humanos foram criados por Deus. Penso que essa verdade reclama uma explanação. POR QUE Deus nos criou? Quando você faz algo, tem uma razão para fazê-lo. Mas o mundo como o conhecemos fornece uma resposta adequada para essa questão? O Antigo Testamento fala do homem conduzindo o mundo sob seu domínio. Ele fala da criação de Deus para manifestar a glória de Deus (Isaías 43,7). Ele fala da terra cheia do conhecimento da glória do Senhor.

Mas o que vemos? Vemos um mundo em rebelião contra o Criador. Vemos as Escrituras judaicas se encerrando com a história da criação totalmente inacabada e a esperança da glória ainda está por vir. Assim, apenas crer que Deus criou os seres humanos conforme as Escrituras judaicas ensinam o que ele fez, reclama que o restante da história seja narrada, a saber, o cristianismo. Somente em Cristo o propósito da criação pode ser realizado.

2. Deus nos criou à sua imagem

Ou considere a segunda verdade: Deus nos criou à sua imagem. Certamente, tem a ver com a razão por que estamos aqui. Seu propósito em nos fazer precisa ter algo maravilhoso a ver com o fato de que não somos sapos ou lagartos ou pássaros ou mesmo macacos. Somos seres humanos à imagem de Deus, nós somente e não outro animal.

Mas que caos fizemos dessa maravilhosa dignidade! Somos como Deus? Bem, sim e não. Sim, somos como Deus, mesmo pecaminosos e incrédulos, há semelhança. Sabemos disso porque, em Gênesis 9,6, Deus disse a Noé: “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”. Em outras palavras, mesmo em um mundo onde o pecado abunda (com assassinatos ou coisa parecida), os seres humanos são ainda a imagem de Deus. Eles não podem ser mortos como ratos e mosquitos. Você comete uma falta se você mata um ser humano (veja Tiago 3,9).

Mas somos a imagem que Deus nos fez ser? Às vezes, a imagem não é desfigurada quase a ponto de ser irreconhecível? Você sente que é semelhante a Deus como deveria ser? Assim, aqui, novamente a crença de que fomos criados à imagem de Deus reclama uma completude — nesse caso, uma redenção, uma transformação, um tipo de recriação. E é exatamente o que o cristianismo realiza. “Porque, pela graça, sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras... Revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Efésios 2,8-10; 4,24). Deus nos criou à sua imagem, mas nós a desfiguramos de modo que ficou irreconhecível e Jesus é a resposta. Ele vem pela fé, perdoa, purifica e começa um projeto de restauração chamado santificação que terminará na glória que Deus planeja para os seres humanos em primeiro lugar. Portanto, sabendo que fomos criados à imagem de Deus, nosso pecado e corrupção clamam por uma resposta. E Jesus é a resposta.

3. Deus nos criou homem e mulher

A terceira verdade nesses versículos é que Deus nos criou homem e mulher. E essa verdade também aponta para o cristianismo e reclama pela completude de Cristo. Como? De duas formas, pelo menos. Uma procede do mistério do casamento. A outra procede da horrorosa história do relacionamento do homem e da mulher no pecado.

O mistério do casamento

Considere o mistério do casamento. Em Gênesis 2,24, exatamente após a narrativa de como a mulher foi criada, Moisés (o escritor de Gênesis) diz: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Agora, quando o apóstolo Paulo cita esse versículo em Efésios 5,32, ele diz: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”. E, tendo isso como sua pista, ele revela o sentido do matrimônio: ele é um símbolo do amor de Cristo pela igreja representado na liderança amorosa do marido em relação à sua esposa; e ele é um símbolo da feliz submissão da igreja a Cristo representado na relação da esposa com o seu marido.

Paulo chama Gênesis 2,24 de um “mistério” porque Deus não revelou explicitamente todos os seus propósitos para o casamento do homem e da mulher em Gênesis. Havia sugestões e indicações no Antigo Testamento que o matrimônio era semelhante à relação de Deus e seu povo. Mas somente quando Cristo veio o mistério do casamento é explicado em detalhe. Ele tem o sentido de ser um retrato do pacto de Cristo com seu povo; seu compromisso com a igreja.

Então, você percebe como Deus cria o homem como macho e fêmea e, em seguida, ordena o matrimônio como relacionamento no qual um homem deixa sua mãe e pai e se une à sua esposa no compromisso do pacto. Como esse ato de criação e essa ordenança do matrimônio clamam pela revelação de Cristo e sua igreja! Eles clamam pelo cristianismo como a revelação do mistério.

Esse é um pensamento muito estranho para a maioria das pessoas, mesmo para a maioria dos cristãos, porque o casamento é uma instituição secular como também cristã. Você o encontra em todas as culturas, não apenas nas sociedades cristãs. Por conseguinte, somos propensos a pensar que todos os casamentos não cristãos que conhecemos sejam símbolos misteriosos da relação de Cristo com a igreja. Mas eles são, e nossa existência de fato como homem e mulher no casamento clama por Cristo fazer-se conhecido em sua relação com a igreja. O cristianismo completa nossa compreensão do pacto do matrimônio.

Permita-me descrever uma imagem para você aqui e dar a ela um contorno que você talvez não tenha pensado antes. Cristo está voltando novamente para essa terra. Os anjos disseram que, assim como você o viu subir, ele virá novamente. Desse modo, imagine esse dia comigo. Os céus estão abertos e a trombeta ressoa e o Filho do Homem surge nas nuvens com poder e grande glória e com dez mil de seus santos anjos brilhando como o sol. Ele os envia para ajuntar seus eleitos dos quatro ventos e ressuscitar dos mortos àqueles que morreram em Cristo. Ele os concede corpos novos e gloriosos como o seu e transforma o restante de nós em um abrir e piscar de olhos para estarmos aptos para a glória.

A era de longa preparação da noiva de Cristo (a igreja!) é finalmente completa e ele a toma pelo braço, por assim dizer, e a leva para a mesa. A ceia de matrimônio do cordeiro acontece. Ele se assenta na cabeceira da mesa e um grande silêncio cai sobre os milhões de santos. E ele diz: “Isto, minha amada, foi o sentido do casamento. Esse é todo o significado que o matrimônio sugeriu. É por isso que os criei homem e mulher e ordenei o pacto do casamento. Daqui por diante, não haverá mais casamento e dar-se em casamento, porquanto a realidade definitiva aconteceu e a sombra passou” (veja Marcos 12,25; Lucas 20,34-36).

Agora, relembre o que estamos fazendo: estamos tentando compreender que a terceira verdade, que Deus nos criou à sua imagem como homem e mulher, aponta para o cristianismo como sua completude. E disse que essa criação faz isso de duas maneiras. A primeira foi pelo mistério do casamento. A criação de seres humanos como homem e mulher provê a estrutura necessária na criação para a ordenação do matrimônio. Você não poderia ter o matrimônio sem o homem e a mulher. E o sentido do casamento não é conhecido em sua essência ou plenitude até que o compreendamos como uma parábola do relacionamento de Cristo com a igreja.

Dessa forma, a criação como homem e mulher aponta para o casamento e o casamento aponta para Cristo e a igreja. E, portanto, a convicção de que Deus nos criou à sua imagem como homem e mulher não é completa sem o cristianismo — sem Cristo e sua obra salvadora pela igreja.

A história horrorosa dos relacionamentos entre homem e mulher

Agora, disse que havia outra forma que a criação do homem e da mulher à imagem de Deus aponta para o cristianismo como a inteireza necessária, a saber, de sua distorção nos relacionamentos históricos horrorosos do homem e da mulher. Permita-me explicar.

Quando o pecado entrou no mundo, o efeito em nosso relacionamento como homem e mulher foi devastador. Deus vem até Adão após ele haver comido do fruto proibido e pergunta o que havia acontecido. Adão diz em Gênesis 3,12: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. Em outras palavras, é erro dela (ou seu por ter me dado ela!), assim se alguém precisa morrer por comer o fruto, seria melhor que fosse ela!

Eis que você tem o começo de toda a violência doméstica, todo abuso à esposa, todo estupro, toda sujeira sexual, todas as formas de menosprezar a mulher a quem Deus criou à sua própria imagem.

Gênesis 3,16 pronuncia uma maldição sobre o homem e a mulher caídos desta forma: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores, darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará”. Expressando de outro modo, o resultado do pecado e a maldição de nossa era é o conflito entre os sexos. Esse versículo não é uma descrição da forma como as coisas deveriam ser. É uma descrição do modo maldito como as coisas serão enquanto o pecado reinar. Homens dominadores e mulheres trapaceiras. Esse não é o sentido do homem e da mulher como imagem de Deus. É a deformidade do pecado.

Agora, como essa deformidade aponta para o cristianismo? Porque ela clama pela cura que o cristianismo realiza no relacionamento entre homens e mulheres. Se Deus nos criou à sua imagem COMO HOMEM E MULHER, isso implica igualdade de personalidade, igualdade de dignidade, respeito mútuo, harmonia, complementaridade, um destino unificado. Mas onde está tudo isso na história do mundo? Está na cura que Jesus realiza.

Duas observações sobre a cura que Jesus realiza

Há muito que dizer aqui. Mas permita-me apenas mencionar dois fatos.

3.1. O destino de ser criado homem e mulher

Primeiro, Pedro diz, em 1 Pedro 3,7, que o marido e esposa cristãos são “juntos herdeiros da mesma graça de vida”. O que isso significa? Significa que, em Cristo, homens e mulheres recuperam o significado de serem criados como homem e mulher à imagem de Deus. Esse tem o sentido que, juntos, como homem e mulher, eles refletem a glória de Deus e, juntos, como coerdeiros, devem herdar essa glória.

A criação do homem e da mulher à imagem de Deus (quando você compreende isso juntamente com o pecado) reclama por consumação da cura que acontece com a obra transformadora de Cristo e a herança que ele comprou para os pecadores. Cristo restaura do pecado a realidade que homem e mulher são coerdeiros da graça da vida.

*3.2. O sentido do celibato como homem e mulher *

O outro fato a se mencionar a respeito da forma como Cristo transforma as coisas ao nosso redor e supera a aparência horrível de nosso conflito e cumpre o destino de sermos criados homem e mulher à imagem de Deus é encontrado em 1 Coríntios 7. Ali, Paulo declara algo quase radical inacreditavelmente para aquele dia: “E aos solteiros e viúvos, digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo… Quem não é casado, cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor… Também a mulher cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito... Digo isso… não que eu pretenda enredar-vos, mas para... que vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor” (1 Coríntios 7,8; 32-35).

Você compreende o que isso implica? Que a cura que Jesus realiza para o homem e a mulher, criados à imagem de Deus, não é dependente do casamento. De fato, a experiência de Paulo como um homem solteiro (e o modelo de Jesus como homem solteiro) o ensinou que há um tipo de devoção sincera com o Senhor possível somente para o homem solteiro ou a mulher solteira que geralmente não é a porção dos santos casados.

Outra forma de afirmar isso é: o casamento é uma instituição temporária para esta era até a ressurreição dos mortos. A essência de seu sentido e propósito é representar a relação de Cristo com a igreja. Todavia, quando a realidade vier, a representação, como sabemos, será excluída. E não haverá casamento nem dar-se em casamento na era por vir. E aqueles que são solteiros e devotados ao Senhor se assentarão à ceia de casamento do Cordeiro como coerdeiros plenos da graça da vida. E, de acordo com a devoção deles ao Senhor e seus sacrifícios, serão recompensados com afeições, relacionamentos e alegrias para além de toda imaginação.

Sumário

Desse modo, permita-me resumir que vimos.

  1. Deus criou os seres humanos. E como o Antigo Testamento encerra, esse fato maravilhoso exige que o restante da história, o cristianismo, faça sentido quanto ao que Deus queria realizar. Seus propósitos na criação são incompletos sem a obra de Cristo.
  2. Deus nos criou À SUA IMAGEM. Porém, desfiguramos a imagem tão pessimamente que ela é pouco reconhecível. Portanto, essa verdade clama por inteireza do cristianismo pois o que Jesus faz é restaurar o que se perdeu. Isso se chama a “nova criação em Cristo”. A imagem é restaurada na justiça e santidade.
  3. Deus nos criou à sua imagem COMO HOMEM E MULHER. E isso também clama por inteireza na verdade do cristianismo. Ninguém pode compreender plenamente o que significa ser homem e mulher no casamento até que compreenda que o casamento é planejado para retratar Cristo e a igreja. E ninguém pode saber o verdadeiro destino do ser criado como homem e mulher à imagem de Deus até que saiba que o homem e a mulher são coerdeiros da graça da vida. E, finalmente, ninguém pode entender totalmente o sentido do celibato como homem e mulher à imagem de Deus até que aprenda de Cristo que, na era por vir, não haverá matrimônio e, portanto, o destino glorioso de ser homem e mulher à imagem de Deus não é dependente do casamento, mas da devoção ao Senhor.

Por conseguinte, viva estas verdades: Deus criou você; ele o criou à própria imagem; e ele criou você homem e mulher para que possa ser totalmente, radicalmente e especialmente devotado ao Senhor.