Como as pessoas serão salvas? (1)
Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente.
A relevância deste texto é imensa para a compreensão de como podemos ser salvos da ira de Deus e do domínio do pecado, tendo esperança de eterna alegria em Deus. É enorme para a compreensão de como seus filhos ou pais ou irmãos e irmãs ou vizinhos ou colegas ou povos não alcançados do mundo serão salvos. O processo de vir à fé e à salvação é aqui exposto como em nenhum outro lugar. Hoje enfocamos uma parte dos versos 14-17.
Antes de ler, lembre o que Paulo acabara de dizer. Ele enfatizou que não há distinção entre judeu e gentio no gozo das riquezas da glória de Deus. Ambos, sem distinção, desfrutarão a plenitude da salvação de Deus se invocarem o nome do Senhor. Romanos 10.12-13, “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.
O problema que Paulo está enfrentando em Romanos 9 e 10 é principalmente a incredulidade de Israel, por que aconteceu e por que isso não diminui a fidelidade e confiabilidade de Deus. O que Paulo faz nos últimos versículos do capítulo 10 de Romanos é dizer que a razão que a maior parte de Israel não partilha da salvação é que não crê na vinda do Messias, Jesus. É o que Paulo dirá nos versículos 16 e 21.
Será bom ler esses dois versículos. No versículo 16b, lemos: “Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?” Noutras palavras, ele chama a Isaías como testemunha, do capítulo 53 verso 1, de que muito poucos há que crêem naquilo que ele proclamou – e o que proclamou, visto naquele capítulo, é a vinda de Cristo e seus sofrimentos e ressurreição, bem como a doutrina da justificação. Assim, seu destaque no verso 16b é que muito poucos judeus creram. Semelhantemente, no verso 21, Paulo cita Isaías 65.2 onde Deus diz: “Estendi as mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos”.
No próximo capítulo, falaremos mais a respeito da incredulidade de Israel em vista da soberania de Deus e doutrina da eleição ensinada por Paulo no capítulo nove. Mas, para agora, observe apenas que o ponto principal de Romanos 10.14-21 é ressaltar novamente a incredulidade de Israel como sendo a razão por que eles não estão usufruindo as bênçãos da salvação.
Talvez alguém faça a objeção de que Deus não tivesse deixado claro os pré-requisitos da salvação. Quem sabe Israel (e implicitamente, também os gentios) não creram porque não possuem o que necessitam para se responsabilizarem por crer. Paulo remove essa objeção dando os passos de salvação que se aplicam aos judeus como também a qualquer outra pessoa. Argumenta ele que esses passos realmente estavam colocados diante de Israel.
Hoje, contudo, enfocamos os passos em si, a fim de saber o que é necessário para nos tornar parte do plano de Deus para nossa salvação, e a de nossos familiares e amigos, bem como as nações que não têm o evangelho.
Vejamos novamente os versículos 14-17.
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anun-ciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.
Quando Paulo diz, “Como são bonitos os pés dos que anunciam a paz,” ele cita Isaías 52.7. O ponto tem dois aspectos.
Os portadores das Boas Novas são Preciosos e Belos
Primeiro, os pregadores do evangelho – portadores das boas novas de Deus – são tão preciosos que vemos até mesmo seus pés sujos e sangrentos como sendo bonitos. Pés formosos não são os macios, de pedicuro feito, bem-cuidados, bronzeados. Lindos pés são aqueles pés sujos, cansados, enrugados, duros como couro, cheios de cicatrizes de caminhar muitos quilômetros em lugares remotos com as boas novas que de outra forma não seriam ouvidas. O primeiro ponto na citação de Isaías 52.7 é este: os anunciadores de boas novas são pessoas preciosas – das quais o mundo não é digno – belos por seus corpos desgastados no serviço do Rei Jesus. Paul Brand, médico missionário na Índia, disse que sua mãe missionária tirou todos os espelhos da casa quando ele falou que por volta dos 70 anos de idade ela tinha uma aparência envelhecida. Nos últimos 20 anos de sua vida missionária (quando ela estava na casa dos noventa) ela nunca mais teve um espelho em sua casa nas montanhas da Índia. Quando ela morreu, as pessoas de vilarejos por toda aquela região montanhosa se juntaram para enterrar uma mulher belíssima.
Deus enviou pessoas com as boas novas
Outro ponto, quando dizemos “Quão formosos são os pés daqueles que pregam boas novas,” é que realmente Deus tem enviado pessoas com as boas novas. As condições foram cumpridas para responsabilizar Israel por crer e clamar ao Senhor pela salvação.
Vejamos quais são essas condições dadas a Israel, que deverão ser cumpridas onde quer que alguém seja salvo. Paulo menciona cinco passos. Vamos tomá-los em ordem reversa da que ele usa nos versos 14-15, mencionando-os na ordem em que ocorrem:
- O pregador tem de ser enviado;
- O pregador enviado tem de pregar as boas novas;
- As boas novas pregadas têm de ser ouvidas;
- As boas novas ouvidas têm de ser cridas;
- A crença tem de ser uma fé que clame a Deus pela salvação.
Enviar, pregar, ouvir, crer, chamar por Deus – é disso que falam os versículos 14 e 15, mas o verso 17 acrescenta uma coisa mais específica. Depois de citar Isaías 53.1 no versículo 16 (“Senhor, quem creu em nossa pregação?”), Paulo repete três dos cinco passos da salvação, tornando um deles mais explícito: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.
Temos, portanto a repetição de três passos: crer (fé), ouvir, pregar. Mas aqui a pregação é definida: “da palavra de Cristo.” Entendo que isso signifique a palavra de Cristo. É o mesmo evangelho que Paulo pregou em todo o livro de Romanos. É a palavra de Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.
Temos então: 1) enviar para pregar, 2) pregar o evangelho de Jesus Cristo, 3) ouvir o evangelho de Cristo, 4) crer neste Cristo, 5) chamar o Senhor Cristo para a salvação. Tomemos um de cada vez, aplicando-os a nossa situação se pudermos. Vamos para trás na ordem dada por Paulo. Neste ponto cobriremos dois aspectos.
Invocar o Senhor
“Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Romanos 10.13). Por que Paulo menciona clamar pelo Senhor como algo que precisa acontecer após crer no Senhor? Não somos justificados pela fé tão-somente?
Penso que a razão pela qual Paulo menciona “invocar o Senhor”, somado ao “crer no Senhor” é porque tem em mente uma salvação maior do que a simples justificação. Penso que inclui toda a experiência de libertação, não somente da culpa do pecado, mas também do poder do pecado e das muitas tentações e provações, bem como do inferno e da ira de Deus no último dia. Deus ordenou que fôssemos justificados pela fé, mas que expressássemos essa fé repetidamente por toda nossa vida, de mil maneiras clamando ao Senhor por libertação e ajuda.
Vemos isso repetido muitas vezes nos salmos e nos evangelhos. Salmo 50.15: “Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” Salmo 91.15: “Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei”. Salmo 145.18: “Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade”. Deixo ainda um exemplo da vida de Jesus. O cego Bartimeu ouviu dizer que Jesus estava vindo e começou a clamar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” E Jesus lhe disse: “O que você quer que eu faça?” O cego respondeu: “Rabi, que eu veja.” Ao que Jesus disse: “Vai a tua fé te salvou” (Marcos 10.46-52). Jesus viu a invocação de Bartimeu como evidência de sua fé e até mesmo aponta essa fé como tendo sido decisiva.
Paulo vê a questão da salvação aqui como as bênçãos totais provenientes de ter Jesus como Senhor por toda sua vida e pela eternidade. É a salvação de Romanos 8.28 – todas as coisas contribuem juntamente para o nosso bem – para sempre. Diz ele ainda que essa bênção vem quando invocamos o Senhor. É assim que devemos viver nossa vida. Temos de clamar ao Senhor continuamente.
Na verdade, em 1 Coríntios 1.2 , Paulo define o cristão desse modo. Escreve “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. É o que define ser cristão: “os que invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Você o invoca? Às vezes, as pessoas perguntam se podemos orar a Jesus. Bem, Paulo define o cristão como uma pessoa quê ora continuamente a Jesus: “Senhor Jesus, estou fraquejando. Ajuda-me”! “Senhor Jesus, estou perdido e confuso, guia-me”. “Senhor Jesus, estou preso numa teia de tentação e pecado – liberta-me”. É o que significa ser cristão.
Isso nos leva ao segundo dos cinco passos que Paulo indica em direção da salvação – indo para trás…
Crer no Senhor
Versículo 14: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Talvez você responda: “Muitas pessoas invocam o Senhor nas emergências mas não crêem nele. As horas mais comuns de ouvir nome de Deus ou de Jesus Cristo fora da comunidade religiosa é quando a pessoa bate o martelo no dedo ou tem um acidente de carro. Tais “chamados” não são de fé. São de ira e de emergências. Não existe neles verdadeiro amor por Cristo. Cristo é apenas um paramédico habilidoso. Bem que poderá desaparecer na noite depois de ter feito meu curativo.
Mas tal ambigüidade fica esclarecida muito rapidamente por Paulo. Na verdade, já esclareceu. O chamado que tem em mente é um chamado a Jesus Cristo como Senhor – nosso Senhor, não o estranho que aparece para nos tirar de uma enrascada e desaparece na noite. Romanos 10.9 deixa isso bem claro: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. O chamado que salva é invocar a Jesus como Senhor. Por isso que Paulo pergunta: “Como invocarão aquele em que não creram?” Até que tenhamos crido em Jesus como Senhor, não poderemos invocá-lo como Senhor.
Aqui fica bem fazer quatro observações sobre a fé – sobre crer – para então salvar o restante do texto para a próxima semana.
A primeira observação que acabamos de ver, muito relevante quanto ao modo errado como muitos aprenderam a descrever sua conversão e crescimento na vida cristã, é:
1) A fé salvadora crê em Jesus como Senhor e o chama Senhor desde o começo.
Vemos isso principalmente em Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Se você não confessa Jesus como Senhor, você não está salvo. Romanos 10.9 deixa claro que o “Senhor” a quem invocamos nos versos 12 e 13 é o Senhor Jesus. É isso que a fé salvadora faz. Invoca a Jesus como Senhor.
Algumas pessoas foram ensinadas que sua experiência deva ser interpretada desta maneira: aceitei Jesus como meu Salvador, e não mudou muita coisa. Mais tarde, eu me entreguei a ele como Senhor, e aconteceram mais mudanças. Essa não é uma descrição bíblica do que realmente aconteceu. Mais bíblico seria dizer: confiei em Cristo, mas entendia muito pouco sobre sua grande salvação e reinado soberano em minha vida. Era imaturo na fé e em meus afetos por Cristo. Mais tarde, tive experiências que abriram meu coração cada vez mais às riquezas de Cristo como poderoso Senhor e belo Salvador, e cada vez mais de minha vida se conformou a ele.
Para alguns, isso ocorre em uma série de eventos de crise; para outros, acontece aos poucos e sem grandes crises. Mas será errado afirmar que exista fé salvadora onde não houver submissão a Jesus como Senhor. A fé salvadora é fé no “Senhor Jesus Cristo,” mesmo se no começo entendemos muito pouco.
2) A segunda observação quanto à fé salvadora é que ela crê nos fatos. É mais que crer nos fatos, mas não é menos que isso.
Isto também fica claro por Romanos 10.9: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. A ressurreição de Jesus dos mortos é um fato histórico. Realmente aconteceu no tempo e no espaço históricos. A fé salvadora crê nisso. Essa é a razão pela qual a fé em Jesus como Senhor e Salvador é fraca em tantas pessoas. A fé tem suas raízes nos fatos, e para muitos os fatos são desconhecidos. Os evangelhos estão aí para nos dar os preciosos fatos com todo seu significado pessoal e poderoso. Mas os fatos são básicos e essenciais. A fé salvadora crê nos fatos, vendo-os como fatos que revelam a glória de Deus.
3) A fé salvadora é mais do que acreditar em fatos – é também confiança pessoal no que esses fatos significam: que Cristo me salvou e cumprirá em mim todas as promessas salvadoras de Deus, incluindo a alegria eterna junto dele.
Tiago 2.19 diz: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem”. Os demônios crêem que o Filho de Deus encarnou, viveu uma vida perfeita como Cordeiro imaculado de Deus, que morreu pelos pecadores, ressurgiu dos mortos, reina e um dia os lançará a todos no lago de fogo. Tal crença não lhes adianta nada, pois são inimigos de Jesus. Eles crêem e tremem.
A fé salvadora repousa sobre os fatos. Descansa! Repousa. Sente segura e “em casa”. A fé salvadora experimenta na alma confiança de que tais fatos pagaram minha dívida e providenciaram minha justiça, abrindo para mim o paraíso. A fé salvadora é um repouso confiante no fato de Deus me salva.
No próximo capítulo, falaremos sobre como ocorre essa confiança. Fica claro aqui que acontece mediante a palavra. Versículo 17: “A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Cristo.” Se você estiver em lutas, coloque-se dentro da palavra – o caminho de ouvir a mensagem da cruz. Ouvir o evangelho de Cristo crucificado e ressurreto é o meio que Deus usa para nos dar confiança de que somos salvos por essa palavra.
4) Finalmente, a fé salvadora inclui uma satisfação espiritual por tudo que Deus fez por nós em Jesus.
Pode chamar isso de elemento emocional, ou afetivo, ou uma prova espiritual que deleite seu coração com Cristo. Ou pode chamar esse aspecto da fé de valorização ou entesouramento de Cristo. Não importa o nome que dá. É uma parte essencial da fé.
Poderia levá-lo a vários lugares para ver isso mais claramente. Por exemplo, Filipenses 3.7-9 onde Paulo diz que considera todas as coisas como lixo em comparação com o valor insuperável do conhecimento de Jesus como seu Senhor. Isso é ver Cristo como tesouro. É estimar sua beleza e seu valor. Faz parte dessa fé que salva. Certamente temos de crescer nisso. Mas sempre existe uma semente disso na fé salvadora.
Ou podemos ver João 6.35 onde Jesus declara: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Isso significa que crer em Jesus é encontrar nele o pão da vida e a água viva que satisfaz os mais profundos anseios de minha alma.
Portanto, a fé salvadora não é apenas crer nos fatos, nem somente confiança de que tudo vai sempre contribuir para o meu bem, mas também um senso espiritual de que esse “bem” é o próprio Jesus Cristo, e possuí-lo é melhor do que a vida.
Em parceria com Editora Fiel.