Santa ambição: pregar onde Cristo não foi nomeado
Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito. Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos. Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.(Romanos 15. 8-24)
Há neste texto três coisas que devemos enfocar. Todas têm implicações diretas para sua vida (mesmo que você não tenha consciência disso), e todas estão diretamente relacionadas a Deus e seus propósitos no Século XXI. Vejo primeiramente uma santa ambição. Em segundo lugar, uma necessidade imensurável. Terceiro, uma estratégia global. Tomemos estes, um de cada vez, para ver como se relacionam uns aos outros e a nós em nosso mundo hoje.
Uma santa ambição
Versículo 20: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio”
Paulo era controlado por uma santa ambição. Digo que era controlado porque no versículo 22 ele diz: “Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos”. Diz também no final do versículo 23: “desejando há muito visitar-vos”.
Quando se deseja tanto alguma coisa durante muitos anos, mas não tal coisa não é realizada, então há algo controlando tal situação. Aquilo que controlava Paulo e o impedia de ir a Roma é que ele ainda não tinha terminado sua ambição nas regiões desde Jerusalém até o Ilírico. Mas agora finalmente, diz o versículo 23: “Não tendo já campo de atividade nestas regiões”, e no versículo 24: “penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia”. Paulo era controlado pela ambição de pregar o evangelho aos que não haviam ouvido o nome de Jesus – desde Jerusalém até o Ilírico (a Albânia de hoje) – e ele não se desviaria dessa ambição até que ela fosse cumprida. Agora a obra nessas regiões estava completa e sua ambição o estava levando até a Espanha. Isso o deixava livre para finalmente fazer o que ele queria há anos, ou seja, visitar a igreja em Roma e desfrutar por algum tempo de sua companhia.
É boa coisa ser controlado por uma santa ambição. Você é controlado por uma santa ambição? Estou chamando-a de “santa” porque seu objetivo é santo – ver pessoas de todas as nações, as quais nunca ouviram falar de Jesus, crer nele, tornando-se obedientes a ele e salvos por ele de seus pecados e da ira de Deus. Chamo isso de ambição “santa” porque vem de Deus e de sua santa palavra, e é muito bom ser controlado por essa santa ambição.
Você possui santa ambição? Nem todos têm de ter ambição igual à de Paulo. Um planta, outro rega (1 Coríntios 3.6-8). Cada um tem o seu próprio dom (1 Coríntios 7.7). Cada um representa aquilo que seu mestre ordena (Romanos 14.4).
Sei que as palavras, “santa ambição,” são incomuns e não são usadas todo dia. “Santa ambição” significa alguma coisa que você realmente quer fazer e que Deus quer que você faça. Alguma coisa que deseja tanto que impede de fazer outras coisas que realmente o agradam. Paulo realmente queria ir a Roma, havia muitos anos. Mas ele não foi, porque desejava ainda mais outra coisa. Ele queria pregar o evangelho na Ásia e na Grécia, onde as pessoas não sabiam sobre Jesus. Ele realmente queria fazer isso, de verdade. Chamamos esse tipo de desejo de “ambição.” E a chamamos “santa ambição” quando é algo que Deus quer que a gente faça.
Penso que Deus deseja que cada um de seus filhos tenha uma santa ambição. Mães e Pais, solteiros, jovens e idosos – todos os cristãos devem ter uma santa ambição, inclusive as crianças devem ser criadas e instruídas a nutrirem essa ambição santa. O cristão deve ter alguma coisa que realmente, de todo coração, queira fazer para a glória de Deus. Algo que o controle, que o ajude a decidir que ainda não deve ir a Roma, pois tem algo muito importante ainda por ser feito. Isso dá foco paixão eterna à vida.
A Origem da Santa Ambição
De onde vem essa santa ambição? Parte essencial da resposta vem na ligação entre os versículos 20 e 21. “esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito [então Paulo cita Isaías 52.15]: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito”.
Aqui temos algo surpreendente e bastante relevante para nós. Sabemos, pelos versículos 22 e 26 de Atos 9, que Paulo foi chamado pelo Cristo ressurreto na estrada de Damasco. Jesus deu essa missão a Paulo em Atos 26.17, 18, “do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim”. Ele recebeu seu chamado diretamente de Jesus Cristo, o soberano Senhor.
Mas não é isto que ele está dizendo em Romanos 15.21. Ele não diz: “Eu os envio para ter essa ambição de ser luz para as nações que não conhecem Cristo, porque Jesus me chamou no caminho para Damasco”. Ele diz: “Tenho essa ambição – estou controlado por uma paixão por pregar onde Cristo não foi nomeado – porque Isaías 52.15 afirma: assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão”.
O que você diz disso? Eu entendo assim. Quando Jesus chamou a Paulo na estrada para Damasco para que levasse o evangelho aos gentios que nunca tinham ouvido, Paulo procurou no Antigo Testamento uma confirmação e explanação desse chamado a fim de ver se isso se encaixava no plano de Deus de ponta a ponta. Encontrou. Para benefício nosso, ele fala desta maneira. Não apenas se refere a sua experiência no caminho de Damasco, que nós nunca experimentamos. Ele se refere à palavra escrita de Deus que nós também temos. Ele baseia as raízes dessa ambição nesta Palavra.
Portanto, a minha resposta à pergunta, de onde vem a sua *santa ambição? é: Vem de um encontro pessoal com o Cristo vivo (nem sempre necessariamente tão dramático quanto aquele na estrada de Damasco), formado e informado e revestido do poder da Palavra escrita de Deus. Enquanto meditamos na lei do Senhor de dia e de noite (Salmo 1.2) – ao nos mergulharmos na palavra de Deus – ele vem e toma algum aspecto da verdade dessa palavra e a queima no nosso coração até que se torne uma santa ambição. Se isso ainda não aconteceu, encha sua vida, sature-se da Palavra de Deus e peça-lhe isso.
Uma Necessidade Imensurável
Deus não nos conduz a ambições que não tenham razão de ser, das quais poderemos nos arrepender no final da vida. Sempre existe uma necessidade a ser suprida – não necessidade em Deus, mas no mundo – por uma santa ambição. Santas ambições não são auto-exaltação. São sempre uma forma de amar. Sempre vêm de encontro às necessidades de alguma pessoa.
Qual era a imensurável necessidade a que Paulo se refere neste texto? Versículo 20: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio”; Quer dizer que Paulo firmou resolutamente sua disposição de pregar o evangelho a pessoas que nunca ouviram falar de Cristo. Gente que nem sabia o nome de Jesus.
As Nações São Indesculpáveis
Eis a questão: Se essas pessoas nem conhecem o nome de Jesus, eles seriam responsáveis por crer nele para a salvação? Se não forem responsabilizados, então não seria melhor e mais seguro simplesmente deixá-los em sua ignorância, crendo que Deus terá misericórdia deles e eles serão salvos por nunca terem ouvido falar de Jesus? Por que Paulo sofreu tanto para pregar o evangelho a pessoas que nunca ouviram o nome de Jesus?
Paulo responde em Romanos 1.18-23. Leia atentamente, devagar, e sinta o peso como certamente Paulo sentiu. Estas palavras são escritas a respeito de todos esses povos nações que nunca ouviram o nome de Jesus, e que a santa ambição de Paulo o impelia a alcançar.
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. * Tais homens são, por isso, indesculpáveis;* porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.
Em Romanos 2.12, Paulo diz: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados”. Todos serão julgados de acordo com aquilo a que têm acesso. E todos que não ouvem o evangelho perecerão, porque todos suprimem a verdade que possuem e vivem em rebeldia contra Deus. Só existe uma esperança: ouvir e crer no evangelho de Jesus Cristo.
A necessidade das nações que não conhecem o nome de Jesus é uma necessidade imensurável. É uma necessidade infinita. A maior necessidade que se pode imaginar é a necessidade das nações de ouvir o evangelho de Jesus Cristo e crer nele, pois o evangelho de Jesus “é o poder de Deus para salvação de todo que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Romanos 1.16). Ninguém é salvo sem isso.
Nem todos são chamados a ir como Paulo. Mas não se pode ser uma pessoa que ame o próximo sem querer que sua vida contribua para cumprir essa necessidade.
Uma Estratégia Global
Porém, Deus está chamando alguns de você para se unir a Paulo pessoalmente e vocacionalmente nessa estratégia global específica. Eis a estratégia. E é maravilhosa. São essas as declarações surpreendentes de Paulo.
Primeiro, o verso 19b: “desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo.” Isso é desde Jerusalém passando acima pela Síria, atravessando a Ásia Menor (Turquia), descendo até Grécia na costa leste e subindo a oeste até o norte da Itália onde hoje existe a Albânia. Paulo diz que cumpriu ali o evangelho, e ressalta essa declaração surpreendente no versículo 23 dizendo “Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões” e no versículo 24 diz: “Agora vou para a Espanha”. Quer dizer que não havia mais nada para ele fazer de Jerusalém até o Ilírico? Não é arriscado dizer que dezenas de milhares de pessoas ainda deveriam ser evangelizadas nessas regiões? Sabemos disso porque Paulo escreve a Timóteo em Éfeso (nessa mesma região) e o ordena a cumprir o trabalho de evangelista (2 Timóteo 4.5). Em outras palavras, há pessoas que precisam ser evangelizadas. E Paulo disse que o seu trabalho nesta região já estava encerrado.
Entendo que isso significa que Paulo não era um evangelista regional – é missionário de fronteiras, missionário pioneiro. Seu chamado bem como sua ambição não era fazer evangelização aonde a igreja já fora plantada. A própria igreja deveria fazer isso. O chamado e a ambição de Paulo era pregar o evangelho onde não existia igreja evangelizadora. Não existiam cristãos. Eles nem conheciam o nome de Jesus.
Missões, Evangelização, e Santa Ambição
A terminologia não é o essencial. Essencial é a distinção. Existem missionários pioneiros ou de fronteira, e existem evangelistas. Os missionários atravessam as culturas e aprendem outras línguas. E missionários *de fronteira*s derramam suas vidas “em palavra e ação, pelo poder de sinais e maravilhas, pelo poder do Espírito de Deus”, quebrando milhares de anos de trevas e o domínio de Satanás sobre um povo que desconhece o Rei dos Reis e Salvador do mundo.
Era esta a ambição de Paulo. Já que a Grande Comissão de fazer discípulos de todas as nações ainda é válida e existem povos hoje que ainda não conhecem o evangelho, então toda igreja deve orar para que Deus levante muitos missionários de fronteira, e fazer evangelistas de todos nós.
Posso imaginar – na verdade, oro por isso – que daqui dez anos alguém – quem sabe dez leitores – estará escrevendo uma carta para casa de um povo não alcançado, dizendo: Estou aqui para falar do evangelho a aqueles que nunca ouviram, conforme está escrito em Romanos 15.20: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio”. Deus imprimiu esta palavra em meu coração e a tornou uma santa ambição na igreja que pastoreio.
“Faça isso, por favor, Senhor. Amém”.
Em parceria com Editora Fiel.