Chamados a sofrer e regozijar por um eterno peso de glória
7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém, não desanimados; 9 perseguidos, porém, não desamparados; abatidos, porém, não destruídos; 10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também sua vida se manifeste em nosso corpo. 11 Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. 12 De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida. 13 Tendo, porém, o mesmo espírito da fé, como está escrito: Eu cri; por isso, falei. Também nós cremos; por isso, também falamos, 14 sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco. 15 Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundante as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus. 16 Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. 17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, 18 não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem, porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.
O versículo 16 expressa algo que todos aqui nesta manhã querem vivenciar. Paulo afirma: “Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia”. Há alguma coisa aqui que ninguém quer e algo que todos desejam.
O que ninguém quer e todos desejam
Ninguém aqui nesta manhã deseja perder a coragem. Ninguém veio aqui para dizer: “Espero que cantemos hinos e ouçamos um sermão que nos ajude a perder a coragem. Eu realmente quero ser desencorajado esta manhã pelo que João diz”. Nem um de vocês. Ninguém deseja que a coragem para viver seja nocauteada. Nem tampouco Paulo.
Ao contrário, todos querem renovação interior dia a dia. Nós todos conhecemos esses sentimentos de força, vivacidade, esperança, vitalidade, coragem e gosto para que a vida dure um pouco mais e então eles tendem a se esgotar. Se vamos ser fortes em nosso interior e ter esperança, alegria, e meios para amar, temos que ser renovados dia a dia. Sabemos disso. A vida não é estática ou imóvel. Ela se move em todas as direções. Ela é plena e extenuante e novamente plena. Ela se renova, exaure-se, renova-se, exaure-se e se renova. E cada um de nós quer o poder de renovação. Ninguém aqui quer ser abandonado no vale do esgotamento, do vazio e do desencorajamento. Se há um segredo para se tornar sempre forte, esperançoso, alegre e amável, dia a dia, estamos interessados em saber.
As palavras fundamentais: “por isso” e “porque”
Há duas palavras nesse texto que deveriam reter nossa atenção. A palavra “portanto”, no princípio do versículo 16, e a palavra “porque”, no começo do versículo 17. Por que elas são bastante fundamentais?
O versículo 16 como o topo de um triângulo
Imagine o versículo 16 no topo de um triângulo com dois lados sustentando-o. Desse modo, há nosso anelo sustentado por estas duas linhas: “não desanimamos”... “contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia”. É o que todos nós queremos nesta manhã — sermos capazes de declarar isso e realmente sermos sinceros.
Versículo 16: Não desanimamos... contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.
Versículos 7–15: como um lado sustentando o topo
As palavras “por isso”, no princípio do versículo, significam que Paulo disse algumas coisas que o levaram a essa experiência e ele a confirma: “isso é verdadeiro e isso é verdadeiro” nos versículos 7-15. “POR ISSO, não desanimamos… POR ISSO nosso homem interior se renova de dia em dia”. Assim, a primeira linha do triângulo é a verdade dos versículos 7-15 que nos prepara o caminho para essa experiência e a sustenta. Deveria atrair nossa atenção quanto a procurar intensamente nesses versículos o significado. Talvez, eles tenham um significado para nós também!
Os versículos 17 e 18 como o outro lado do triângulo que sustenta o topo
Então, as palavras “por isso” no princípio do versículo seguinte (v. 17) significam que Paulo vai dizer algumas coisas que são a razão para o versículo 16. “Não desanimamos... contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia”. POR ISSO (PORQUE) é verdade e isso é verdade e isso é verdade. Portanto, a segunda linha do triângulo é a verdade dos versículos 17 e 18 que sustentam a experiência que ele já descreveu.
Assim, você pode ver este fato agora: a experiência que anelamos está situada ali, no ponto desse triângulo, com dois lados de suporte. Os versículos 7-15 são verdadeiros: “POR ISSO, não desanimamos... contudo, nosso homem interior se renova de dia em dia”. Esse é um lado. “Não desanimamos... contudo, nosso homem interior se renova de dia em dia”. PORQUE 1 os versículos 17 e 18 são verdadeiros.
Dessa forma, nosso objetivo então é examinar os dois lados desse triângulo e fazer da verdade que sustentava Paulo a verdade que nos sustenta.
O versículo 16 acontece em meio ao sofrimento
Mas, primeiro, uma breve observação: o versículo 16 admite que não desanimar e ser renovado de dia em dia acontecem em meio ao sofrimento. “Não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia”. Paulo sabia que estava para morrer e que todos morrem. Ele vivenciou sofrimento extraordinário e nisso viu a decadência e a fragilidade de sua vida terrena. Paulo vivenciou fraqueza, enfermidade, injúrias, sofrimentos, pressões, frustrações e desapontamentos. E cada um deles lhe custou parte de sua vida. Uma forma de afirmar isso foi que “a morte operava nele” (cf. v. 12).
Esse foi o contexto para declarar: “Não desanimamos... nosso homem interior se renova de dia em dia”. Por conseguinte, realmente, não perguntamos agora: “Como não posso desanimar nesta vida?” e “Como posso ser renovado de dia em dia?”, mas “Como posso me preparar sem desanimar?”; “Como posso aceitar a decadência de meu corpo e o declínio de minha vida terrena e ao mesmo tempo não desanimar, mas encontrar renovação de força no meu interior para prosseguir com alegria até o fim com atos de amor?”
Agora estamos prontos para ver a resposta de Paulo para essa questão. Primeiro, nos versículos 7–15 e, então, nos versículos 17 e 18.
Os versículos 7–15: quatro razões para não desanimar
Nos versículos 7–15, há pelo menos quatro razões que levam Paulo a declarar: “POR ISSO não desanimamos”. E cada uma delas toma em consideração a decadência de sua vida terrena. Ele jamais perde de vista que é um mortal e sua vida está sendo consumida. Portanto, ele demonstra, nesses dois versículos, o que é verdadeiro a despeito de e até porque seu homem exterior está se corrompendo e se decompondo.
1. A glorificação do poder de Deus e do Filho de Deus
Primeiro, embora seu homem exterior esteja se corrompendo, contudo, e neste sofrimento e por ele o poder de Deus e a vida do Filho de Deus são manifestos e glorificados.
O versículo 7: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro [isto é, o homem exterior decadente e frágil] para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. POR ISSO, não desanimemos… porque o poder de Deus é exaltado em nossa fraqueza.
O versículo 10: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus [esse é outro aspecto da decadência do homem exterior], para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo”. POR ISSO, não desanimamos… porque a vida do Filho de Deus é exaltada em nosso morrer diariamente.
O versículo 11: “Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal”. POR ISSO, não desanimamos… porque a vida do Filho de Deus é manifesta e glorificada em nossos corpos decadentes.
Desse modo, a primeira razão por que Paulo não desanima, à medida que seu homem exterior se corrompe, é que, em sua debilidade e morte diárias pelas pessoas, o poder de Deus e a vida do Filho de Deus são glorificados e é isso o que Paulo ama mais que qualquer outra coisa.
2. O fortalecimento da igreja
Segundo, embora seu homem exterior esteja se corrompendo, entretanto, em e por meio desse sofrimento, a vida está fluindo dele para a igreja. Os cristãos são fortalecidos pelo enfraquecimento de Paulo.
O versículo 12: “De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida.” POR ISSO, não desanimamos... porque não somente Deus é glorificado, mas vocês, meus amados, recebem vida, força e esperança.
O versículo 15: “Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundante as ações de graças por meio de muitos [através do sofrimento de Paulo por eles], para glória de Deus”. POR ISSO, não desanimamos… porque (e observe como o versículo 15 expressa as primeiras duas razões juntas) o ministério de graça sofredora é transmitido a você e a glória será de Deus. Esses são os dois grandes amores da vida de Paulo: transmitir graça e produzir glória para Deus — e esse versículo declara que elas acontecem na mesma experiência de fato. POR ISSO, Paulo não desanima.
3. A presença sustentadora de Deus
Terceiro, embora seu homem exterior seja decadente, no entanto, em e mediante seu sofrimento, Deus o sustenta e não permite que ele seja vencido.
Os versículos 8 e 9 (note que em cada um desses pares que Paulo realmente afirma é: “Sim, nosso homem exterior se corrompe, mas NÃO, não desanimamos): “Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém, não desanimados; perseguidos, porém, não desamparados; abatidos, porém, não destruídos”. POR ISSO, não desanimamos… porque Deus nos sustenta e não permite que sejamos vencidos.
4. Nossa ressurreição dentre os mortos
Quarto, embora seu homem exterior seja decadente, contudo, ele será ressuscitado dentre os mortos com a igreja e estará com Jesus.
O versículo 14: “[Sabendo] que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará convosco”. POR ISSO, não desanimamos… porque tudo ficará bem. Nem mesmo a morte pode fazer que a história tenha um fim perverso. Vou viver novamente e vou viver com vocês, o povo que amo. Vou viver com Jesus e compartilhar de sua glória para sempre e sempre.
POR ISSO... esta é a primeira linha do triângulo (versículos 7-15) que sustenta a grande experiência de não desanimar, mas ser renovado dia a dia.
- Sou renovado porque o poder de Deus e a vida do Filho de Deus são manifestos e glorificados em minha decadência e fraqueza.
- Sou renovado porque a vida está fluindo de meu sofrimento para a igreja que amo muito.
- Sou renovado porque Deus me sustenta em meu sofrimento e não permite que eu seja vencido por ele.
- Sou renovado porque sei que serei ressuscitado dentre os mortos com vocês e com Jesus para vivermos juntos eternamente.
POR ISSO, não desanimo!
Nos versículos 17 e 18: quatro razões para não desanimar
Agora, olhe para a outra linha do triângulo que sustenta a maravilhosa experiência de Paulo no versículo 16, ou seja, os versículos 17 e 18. Ele não desanima e ele é renovado de dia em dia PORQUE os versículos 17 e 18 são verdadeiros. Novamente, há quatro razões para a falta de desânimo de Paulo, apesar de seu homem exterior se corromper — suas fraquezas, enfermidades, injúrias e sofrimentos.
1. Momentânea tribulação
Ele não desanima PORQUE sua tribulação é momentânea.
O versículo 17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação...”. Isso não significa que ela dure 60 segundos. Significa que ela dura a vida toda (que é momentânea se comparada a milhões de eras dos milênios) e isso é tudo. A palavra significa “presente” — “as tribulações presentes”. As tribulações que não se prolongarão nesta presente vida. Não desanimo... PORQUE minhas tribulações terminarão. Elas não darão a última palavra em minha vida.
2. Leve tribulação
Ele não se desanima PORQUE sua tribulação é leve.
O versículo 17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação...”. Essa não é a avaliação de um moderno americano em uma posição confortável. É a própria avaliação de Paulo. Nem ele esqueceu o que disse em 2 Coríntios 11,23-28.
“... em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas”.
Quando Paulo afirma que suas tribulações são leves, não quer dizer que sejam fáceis ou sem sofrimento. Ele quer denotar que, comparadas com o que virão, elas são como se nada fossem. Comparadas com o vindouro peso de glória, elas são penas na balança. “Porque, para mim, tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8,18). Não desanimo... PORQUE minhas tribulações são leves.
*3. Um eterno peso de glória *
Paulo não se desanima PORQUE sua tribulação realmente produz nele um eterno peso de glória acima de toda comparação.
O versículo 17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação”. O que acontecerá a Paulo não será momentâneo, mas eterno. Não será leve, mas pesado. Não será tribulação, mas glória. E será além de toda compreensão. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2,9).
E o fato não é que as tribulações não precedem meramente a glória; elas ajudam a produzi-la. Há uma real conexão causal entre como suportamos o sofrimento agora e o quanto seremos capazes de nos deleitar na glória de Deus nas eras que estão por vir. Nem um momento de angústia paciente é perdido. Não desanimo... PORQUE todas minhas tribulações produzem em mim um eterno peso de glória acima de toda comparação.
4. A invisível e eterna glória vindoura
Paulo não desanima PORQUE ele fixa sua mente na invisível e eterna glória vindoura.
O Versículo 18: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem, porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”. Deus pode lhe oferecer toda a glória do universo para impedir que você se desanime com o intuito de renovar sua alma diariamente, mas se você jamais atentar para sua glória, nada provirá dela.
O convite generoso de Deus
De fato, isso é o que Deus realiza exatamente agora neste sermão. Este texto é um convite generoso de Deus para vocês atentarem para todas as razões por que não devem se desanimar — todas as razões por que vocês devem ser renovados dia após dia.
Atente! O poder de Deus e a vida de seu Filho são manifestos em sua debilidade.
Atente! A vida de Jesus flui pelo seu sofrimento para as vidas de outras pessoas.
Atente! Deus sustenta você em suas tribulações e não permitirá que você seja destruído.
Atente! Suas tribulações não darão a última palavra; você será ressuscitado dos mortos com Jesus e com a igreja de Deus e viverá feliz para sempre e sempre.
Atente! Suas tribulações são momentâneas. Elas são apenas por agora, não para era vindoura.
Atente! Suas tribulações são leves. Comparadas aos prazeres que virão, elas são como se nada fossem.
Atente! Essas tribulações produzem em você um eterno peso de glória acima de toda comparação.
Assim sendo, ATENTE! Foque! Medite. Pense nessas coisas! Creia no que Deus diz e você não desanimará, mas seu homem interior será renovado de dia em dia.
1 Atente para a ênfase do autor. Note que o versículo 17 começa com a palavra PORQUE como o 16 com as palavras POR ISSO. NT.