Segurança eterna é um projeto comunitário
12 Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo. 13 Pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. 14 Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. 15 Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação. 16 Ora, quais os que, tendo ouvido, rebelaram-se? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? 17 E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? 18 E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes? 19 Vemos, pois, que não puderam entrar pela incredulidade.
Dois grandes ses
Na última semana, focamos em dois grandes ses no versículo 6 e 14. Vamos colocá-los diante de nós novamente e então focar em como nossa vida na igreja de Bethlehem pode nos ajudar a cumprir os grandes ses.
O Versículo 6b: “a qual [a casa de Cristo] casa [sua família, seu povo] somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança”. Observe cuidadosamente. O texto não diz: que nos tornaremos a casa de Cristo se guardarmos firme nossa esperança. O texto diz: somos sua casa se guardarmos firme nossa esperança. Em outras palavras, guardar firme nossa esperança é a demonstração e a evidência de que agora somos sua casa.
Então, examine o se do versículo 14: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos”. Novamente, observe uma vez mais a fraseologia cuidadosamente. O texto não diz: “Tornar-nos-emos participantes de Cristo no futuro se guardarmos firme a nossa confiança”. O versículo diz: “Temos nos tornado participantes [no passado], se, de fato guardarmos firme nossa confiança”. Em outras palavras, o guardar firme nossa confiança verifica que algo real e permanente tem acontecido a nós, tornamo-nos participantes de Cristo. Nós verdadeiramente nascemos de novo. Verdadeiramente, fomos convertidos. Fomos feitos verdadeiramente parte da casa de Cristo.
Qual então deveria ser a conclusão se não guardássemos firme a nossa confiança? A resposta não é que você deva cessar de ser um participante de Cristo, mas que jamais se tornará um participante de Cristo. Leia o texto cuidadosamente: “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme a confiança”. E, desse modo, “se não guardarmos firme nossa confissão, logo não nos tornamos participantes de Cristo”.
Hebreus ensina a segurança da salvação eterna
Com base nesse texto, afirmei na última semana que este livro ensina a segurança eterna. Ou seja, ensina que se você se torna verdadeiramente um participante de Cristo, sempre será um. Ele atuará em você para preservar sua fé e esperança. Outra forma de afirmar isso é que se você é um filho de Deus, não pode cessar de ser um filho de Deus. Mas todos sabem que há muitas pessoas que começam a vida cristã e então caem e abandonam o Senhor. Esse tipo de pessoa está muito presente na mente desse escritor. Ele sabe o que acontece e lida com isso nesse texto e sabe evitar que essa queda aconteça. Mas quando isso acontece, sua explanação não é que a pessoa realmente era um participante de Cristo, mas que ela jamais havia se tornado um verdadeiro participante dele. Se guardarmos firme nossa confiança, tornamo-nos participantes de Cristo; se não, então não nos tornamos um deles.
Em outras palavras, perseverar na fé e esperança, guardando firme sua confiança em Deus não é uma forma de se precaver quanto a perder sua posição em Cristo; é uma forma de demonstrar que você tem uma posição em Cristo. Essa posição jamais pode ser perdida, porque você a detém pela livre graça de Deus e porque Cristo a prometeu com um pacto e um juramento (Hebreus 6,17-19) preservar aqueles que são seus (Hebreus 13,5; 20–21). Em outras palavras, minha segurança e confiança não são uma decisão ou uma oração que me lembro de tê-la feito no passado; minha segurança e confiança são a fidelidade e o poder de Deus de me manter esperando nele no futuro. Minha segurança é que “aquele que começou boa obra em mim há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1,6).
Como você pode “se afastar de Deus” se você jamais foi um cristão?
Agora, isso levanta diversas questões. Uma é: bem, se nosso fracasso em guardar firme nossa esperança e confiança significa que jamais fomos participantes de Cristo, de que nos afastamos, como informa o versículo 12?
“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste [desviar-se] do Deus vivo.”
Em que sentido pode haver um afastamento ou desvio de Deus se verdadeiramente jamais pertencemos a ele?
Uma resposta simples é que pode haver real e doloroso afastamento de uma noiva, que não é o mesmo que se afastar de uma esposa. Penso que a forma com a qual o escritor da carta deseja que reflitamos sobre isso é dado pelo exemplo do povo de Israel nos versículos 7–11 (Salmo 95). Ele indica, no versículo 9, que o povo “viu minhas obras por quarenta anos” e ainda continuavam com seus corações endurecidos contra Deus (v. 8) e sempre erravam em seus corações (v. 10). Expressando de outra forma, eles haviam visto Deus dividir o mar Vermelho e mostrou a eles grande misericórdia para salvá-los do Egito. Eles o viram tirar água da rocha, prover o maná do céu, prover-lhes direção com as colunas de nuvem e fogo, libertação dos inimigos, boas leis para serem seguidas, clemência para com suas rebeliões. Mas a despeito de tudo isso, eles endureceram o coração e cessaram de esperar em Deus. Quiseram voltar para o Egito, fizeram ídolos e murmuraram. É isso que o autor da carta quer denotar com a expressão “afastar-se do Deus vivo”.
Eles foram levados para o contexto das obras poderosas de Deus. Provaram seu poder e as bênçãos do Espírito e da bondade. Foram iluminados com a revelação de Deus acima de qualquer outro povo na terra. E eles se afastaram. Assim ocorreu com algumas pessoas nos tempos do Novo Testamento. E da mesma forma é hoje. Essas pessoas testemunharam os sinais e as maravilhas mencionados em Hebreus 2,4. Provaram os poderes do mundo vindouro. Foram constituídos em um povo amoroso e vivenciaram as obras do Espírito no meio deles e em suas vidas. Vislumbraram a luz do Evangelho. Foram batizados e participaram do pão da comunhão e ouviram a pregação, e, provavelmente, fizeram elas mesmas obras extraordinárias.
Mas, como Israel, seus corações endureceram e um coração perverso de incredulidade assumiu o controle e eles começaram a colocar a esperança em outras coisas em vez de Cristo e, por um período prolongado, afastaram-se da bondade que os havia cercado. E Hebreus afirma que a explicação para isso é que “não eram participantes de Cristo”. Eles foram participantes de certas frações de iluminação, poder e alegria, mas (usando as palavras de Jesus) não havia raiz à planta e ela secou, enquanto outras foram sufocadas com os cuidados e as riquezas e os deleites da vida (Lucas 8,13-14).
Afirmando de outra maneira, você pode se afastar de Deus mesmo em um nível que você se aproxime da obra dele — o amor de seu povo, a luz de sua Palavra, o privilégio da oração, a força moral de seu exemplo, os dons e milagres do Espírito, as bênçãos da providência e a graça diária do sol e chuva. É possível provar essas coisas, ser profundamente influenciado por elas e se perder na incredulidade, porque o próprio Jesus Cristo não é o prazer de seu coração, esperança, confiança e recompensa.
Jesus ensinou esses assuntos repetidamente para advertir contra a falsa segurança. Por exemplo, ele disse em Mateus 7,21-23:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor, porventura, não temos nós profetizado em vosso nome, e em vosso nome expelimos demônios, e em vosso nome fizemos muitos milagres? Então, eu lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim os que praticais a iniquidade”.
Profetizar, expulsar demônios, a operação de milagres em nome de Jesus não prova que Jesus nos “conhece” ou somos participantes de Cristo. É possível realizar essas coisas com um coração insensível e contumaz. A evidência de “ser conhecido” por Jesus é que ele é nossa esperança, confiança, tesouro, ou recompensa (Hebreus 10,24; 11,25-26). Essa é a realidade interior que transforma nossas vidas.
Aqui há uma pergunta: como você se afasta ou se desvia de Deus, se jamais foi um participante de Cristo? E a resposta é: há muitas formas de se afastar da presença de Deus pela falta de confiança, esperança nele e pela ausência de amor por ele e há muitas maneiras de se desviar de Cristo sem jamais ter sido um participante de Cristo.
Como podemos ter certeza de nossa segurança de salvação eterna?
Portanto, a segunda pergunta é: o que faremos? Como saberemos, desfrutaremos e teremos certeza de nossa segurança de salvação eterna? Os versículos 12 e 13 nos fornecem duas respostas: uma mais geral e outra mais específica.
Primeiro a resposta geral no versículo 12: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo”. A resposta geral é: “Tende cuidado!” ou “Preste atenção” ou “Examine!” Em outras palavras: não seja negligente ou indiferente ou desatento com respeito à condição de seu coração. Examine isso. Como Paulo declara em 2 Coríntios 13,5: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé”. Ou como Pedro afirma em 2 Pedro 1,10: “Procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição”. Não caia ou se desvie e não assuma que sua perseverança em fé esteja garantida. Todos os tipos de paixões alternativas fazem guerra contra sua alma todos os dias para roubar sua fé e substituir Cristo por outros tesouros. Tome cuidado! Preste atenção! Seja diligente! Guarde seu coração. Como Provérbios 4,23 diz: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida”. Essa é a resposta do versículo 12. Preste atenção!
Alguém pode perguntar: “Bem, se sou um verdadeiro participante de Cristo, como acredito que sou, por que tenho que ter cuidado e ser tão vigilante, quando você disse que sou eternamente salvo e não posso perder essa minha posição em Cristo? Considero que a questão pressupõe algo que o Novo Testamento declara que não seja verdadeiro. Ela pressupõe que a provisão de Deus para os seus escolhidos irem para o céu é sem vigilância, precaução e autoexame, e o uso diligente dos meios. Mas, de fato, Jesus afirma em Lucas 12,24: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão”. E Pedro (1 Pedro 5,8) declara: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.” A verdade não é que os verdadeiros cristãos não tenham que ser vigilantes e precavidos com os seus corações, mas é que você só pode saber se é um verdadeiro cristão se for vigilante e precavido com seu coração.
São os cristãos descuidados que precisam ficar preocupados sobre suas posições. São os que foram batizados e caminharam pelas passagens entre as fileiras de bancos da igreja, oraram, participaram da comunhão, vieram para igreja, mas que não amam Jesus ou não o consideram o tesouro mais precioso que possuem ou não confiam nele e aguardam ansiosamente por ele e podem dizer: “Viver é Cristo e morrer é lucro”. Esses são os seguros de si que necessitam se sentir inseguros (veja Deuteronômio 29,19). Eles são pessoas, frequentemente na igreja, que tratam a redenção como uma vacina. Foram vacinados anos atrás e admitem que tudo está bem sem refletirem sobre os perigos da incredulidade ao derredor. Eles afirmam: “Fui inoculado contra o inferno quando tinha oito ou seis anos de idade”. E, assim, ir para o céu não é questão de guardar o coração para impedir que ele se torne insensível e incrédulo. É simplesmente uma questão de ter segurança de que a inoculação ocorreu. Esses são os que estão em tremendo perigo.
Esta é a primeira resposta sobre como temos garantia de nossa eterna salvação: guarde seu coração. Previna-se contra a incredulidade. Isto é, seja vigilante para manter sua confiança e esperança em Cristo contra todos os tesouros rivais.
A segunda resposta é mais específica no versículo 13: “Pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. A segunda resposta é que a redenção eterna é um projeto comunitário. O que faremos em Bethlehem para evitar que “um coração perverso de incredulidade” não seja endurecido pelo engano do pecado que nos tenta todo dia a apreciá-lo mais que a Jesus?
Como a igreja nos ajuda a evitar que tenhamos um “perverso coração de incredulidade”?
A resposta é que precisamos ser a igreja uns pelos outros. E qual é a coisa principal que a igreja faz uns pelos outros? Falamos uns aos outros de modos que nos ajudam a não sermos enganados pelas ilusões do pecado. Ou para afirmar isso positivamente, falamos uns aos outros de modos que nos levem a ter corações crédulos no supremo valor de Cristo sobre todas as coisas. Lutamos para manter a fé de cada um, por falar palavras que apontam para a verdade e o valor de Jesus. É dessa forma que você se protege de um perverso coração de incredulidade. Incredulidade significa falhar em confiar em Jesus como seu maior tesouro. Assim, ajudar uns aos outros a crer significa mostrar as pessoas as razões por que Jesus deve ser mais desejado, confiado e amado mais que qualquer outra coisa.
Exatamente aqui há uma explicação por que Deus ordenaria que a vida cristã fosse uma vida de vigilância individual e comunitária e por que ele planejaria que nossa segurança eterna fosse um projeto comunitário. A explicação é que a forma de viver a vida cristã torna a glória de Cristo o centro de toda nossa interação. Se a segurança eterna fosse como uma vacinação, logo, Cristo poderia ser honrado no dia da inoculação, mas, após isso, ele poderia ser esquecido da mesma maneira que esquecemos nossas vacinações. Mas não é desse modo se a salvação eterna envolve uma batalha diária contra a incredulidade cujas armas da vitória são exortações de fé sobre a fidelidade de Cristo e a majestade de Cristo e o valor que ele tem sobre todas as coisas. Se precisarmos falar dessa forma uns aos outros todos os dias para termos a segurança que todos nós prosseguimos confiando nele, então ele é relevante dia após dia. Sempre se fala de Cristo e sempre ele é o centro das atenções. Por conseguinte, Deus ordena que a segurança da salvação seja um projeto comunitário porque ele não quer que seu Filho seja esquecido como uma vacinação, mas celebrado diariamente como o maior tesouro no universo.
Agora, é claro nos versículos 12 e 13 que alguma coisa mais que a pregação está em vista aqui. Tento fazer isso em minha pregação: exortar vocês semanalmente a não ter um perverso coração de incredulidade. Mas esse texto diz duas coisas mais. Uma (no v. 13) é que essa exortação deve acontecer “cada dia”, não apenas uma vez por semana. E a outra deve ser feita “mutuamente” (v. 13) — isto é, vocês têm que fazer isso uns pelos outros, não apenas receberem essa exortação do pregador.
Essa convicção — que esse ministério mútuo é totalmente crucial para sua perseverança na fé e sua salvação — é a razão pela qual os presbíteros decidiram anunciar a criação do ministério de pequenos grupos neste inverno em Bethlehem. Acreditamos que não há maneira melhor, em uma igreja desse tamanho, que encorajar tal tipo de luta corporativa de fé, criando um lugar maior para pequenos grupos e trabalhar com o objetivo de atingir uma participação mais ampla. Por isso, começando em setembro, todos os domingos à noite serão datas destinadas para os pequenos grupos e toda quarta-feira à noite será separada para contato uns com os outros no meio da semana, quando acontecerão eventos como refeição, adoração comunitária como igreja, narrativa de histórias edificantes de fé sobre o que Deus está realizando nos grupos e o ensino da Palavra de Deus para nossas crianças, juventude, adultos para que não haja em algum de nós um coração incrédulo que nos afaste do Deus vivo.
Estou entusiasmado sobre o potencial de ministério desses dois movimentos: 1) a convocação dos pequenos grupos todo domingo à noite na esperança de que muitos grupos se tornarão mais e mais como equipes de ministério que exortam uns aos outros todo dia; e também 2) o costume padronizado de na quarta-feira à noite ocorrerem a comunhão, a adoração, o ensino e as histórias do poder de Deus no presente.
Insisto com você, com todo afeto do meu coração, a assimilar essa passagem da Escritura seriamente quando ponderar se sua vida se compatibiliza com esse padrão da vida cristã. O ajuntamento regular com um pequeno grupo de cristãos que esteja empenhado em lutar pela fé uns dos outros não poderia produzir em você a alegria da segurança e confiança mais que qualquer coisa e liberá-lo para o testemunho corajoso e ministério no mundo? Penso que é para isso que Deus está nos chamando também.