A Cronologia do Novo Testamento
O objetivo do estudo de cronologias é explorar a sequência de eventos passados e determinar quanto tempo decorreu entre eles. É um importante ramo do estudo de História, pois para determinar as causas e consequências dos eventos passados - como historiadores tentam fazer - é necessário saber quais eventos aconteceram primeiro, e o quão distantes eles estão entre si. Dessa forma, atribuir datas absolutas é menos importante do que conhecer a sequência de eventos que podem ter influenciado uns aos outros. Ter isto em mente deve nos impedir de sermos desanimados, ao constatarmos que, devido à escassez de informação, poucos acontecimentos do Novo Testamento podem receber datas exatas.
É um notável testemunho à influência do Cristianismo que, hoje, o Ocidente inteiro divida a história entre a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo). Antes que este método de contagem dos anos se tornasse difundido na Idade Média, os eventos eram datados em relação a outros eventos importantes, como a fundação de Roma, ou o começo do reinado de algum monarca. Quando um monge chamado Dionísio Exíguo (Dionysius Exiguus) do século VI inventou o método de contagem dos anos que utilizamos hoje, com o nascimento de Cristo dividindo a história, ele cometeu um erro em seus cálculos. O resultado singular disto é que agora, precisamos dizer que Cristo nasceu ao menos quatro anos "antes de Cristo"!
O Nascimento de Jesus
De acordo com Mateus 2:1, Jesus nasceu "nos dias do rei Herodes". Entretanto, sabemos através do historiador judeu Josefo que Herodes morreu na primavera do ano 4 a.C. (Antiguidades XVII, 8, 1). Portanto, Jesus nasceu antes de 4 a.C.; o quanto antes, não temos como saber com certeza. Lucas 2:1-2 conta que o nascimento de Jesus aconteceu quando "saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse (este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria)." Isto levanta duas perguntas importantes: Quando foi realizado este censo, e quando Quirino governou sobre a Síria? Nenhuma das duas recebeu até hoje uma resposta totalmente satisfatória.
Documentos sobre recenseamento descobertos no Egito, bem como algumas referências prévias, sugerem que estes alistamentos ocorriam uma vez a cada 14 anos. Isto colocaria um censo aproximadamente em 8 ou 9 a.C. Em vista do tempo que seria necessário para realizar o censo (que exigia que a pessoa viajasse até o seu local de nascimento), o nascimento de Jesus pode ter acontecido um pouco após o ano efetivo do decreto (talvez 7 a.C.).
E quanto à pergunta de quando Quirino se tornou governador da Síria? Josefo nos conta que Quirino tornou-se o governador sírio em 6 d.C. (Antiguidades XVIII, 8, 1, 1 e 2, 1 com XVII, 13, 2). Seria tarde demais para o nascimento de Jesus. Mas Sir William Ramsey argumentou fortemente, com base em antigas inscrições, que Quirino também serviu na Síria como um embaixador especial do imperador Augusto antes do ano 6 a.C. Esta seria, portanto, a época a que Lucas estava se referindo em Lucas 2:2. Se perguntarmos por que Lucas escolheu citar Quirino ao invés do governador efetivo da Síria naquela época, a resposta pode ser que, ao fazê-lo, ele forneceu uma data mais exata para o nascimento de Jesus, uma vez que Quirino não possuía autoridade enquanto governador normal da Síria.
Podemos concluir, portanto, que Jesus nasceu por volta de 7 a.C. Isto está de acordo com Mateus 2:16, que parece dizer que Jesus nasceu ao menos dois anos antes da morte de Herodes, em 4 a.C. Não existe evidência segura quanto ao dia e mês do seu nascimento. A celebração do Natal em 25 de dezembro originou-se no século IV, e provavelmente representou uma alternativa cristã ao festival pagão do solstício de inverno.
O Início do Ministério Público de Jesus
Lucas 3:23 diz: "Ora, tinha Jesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério." Isto é apenas uma aproximação; ele podia ter dois ou três anos a mais ou a menos (cf. Test XII Pat, Levi 2:2; 12:5). Se somarmos 30 à data sugerida de nascimento, temos 24 d.C. Isto não pode estar correto, porque o ministério de Jesus começou depois do aparecimento de João Batista. Mas Lucas 3:1-3 fixa a data do aparecimento público de João precisamente no "décimo quinto ano do reinado de Tibério César", enquanto Pilatos era o governador da Judeia. Pilatos governou de 26 d.C. a 36 d.C., e o 15º ano de Tibério foi provavelmente 27 d.C. Portanto, Jesus não começou seu ministério público antes de 27 d.C. E se assumirmos que não se passou um longo período entre o começo do ministério de João e o começo do ministério de Jesus, então Jesus provavelmente começou em 27 ou 28 d.C. Ele teria, então, aproximadamente 33 anos no princípio de seu ministério.
A Morte de Jesus
Os quatro evangelhos registram de forma implícita que Jesus realizou a Última Ceia com seus discípulos em uma tarde de quinta-feira, foi crucificado na sexta-feira e ressurgiu dos mortos, aparentemente, na manhã de domingo (cf. Mateus 28:1; Marcos 14:42; Lucas 24:1). A afirmação de que Jesus ressurgiu ao terceiro dia, em 1 Coríntios 15:4, é devido ao costume judeu de contar uma parte de um dia como um dia inteiro. De acordo com Mateus 26:19, Marcos 14:12 e Lucas 22:15, a Última Ceia foi a refeição da Páscoa, uma celebração anual da fuga de Israel do Egito (cf. Êxodo 12-15). De acordo com João 18:22 e 19:14, porém, a refeição da Páscoa ainda não havia sido feita na sexta, portanto a Última Ceia de João não é a refeição da Páscoa (13:1).
Não há uma solução totalmente satisfatória quanto a esta discrepância, mas Leo Morris (O Evangelho segundo João, 785) sugere, de maneira plausível, que isto se deve ao uso de diferentes calendários. "De acordo com o calendário que Jesus estava seguindo, a refeição era a Páscoa. Mas as autoridades do templo seguiam outro calendário, de acordo com o qual os sacrifícios seriam feitos no dia seguinte. João parece usar isto para demonstrar a verdade de que Cristo foi morto como nossa páscoa (cf. João 19:36; 1 Coríntios 5:7)."
Para definirmos quanto tempo durou o ministério público de Jesus, e dessa forma o ano em que ele morreu, podemos nos voltar às referências de tempo no evangelho de João. João cita pelo menos três Páscoas (2:13, 6:3, 13:1) e possivelmente quatro (5:1). Uma vez que a Páscoa é uma festa anual, o ministério de Jesus estenderia-se a pelo menos dois, possivelmente três anos. Podemos adicionar a isto a evidência da astronomia. Em Mateus, Marcos e Lucas, a sexta-feira da morte de Jesus ocorreu no dia 15 do mês judeu de Nissan (que coincide com os nossos março e abril). Em João, Jesus morreu em 14 de Nissan. Portanto, a pergunta é: em quais anos de 26 a 36 d.C. (quando Pilatos era o procurador da Judeia) os dias 14 e 15 de Nissan caíram em uma sexta-feira? A resposta é 27, 29, 30 e 33. Destes anos, 27 é muito cedo, e 33 provavelmente é tarde demais. Nossa conclusão, portanto, é que Jesus foi crucificado em 29 ou 30, que seu ministério público durou dois ou três anos, e que ele tinha 35 ou 36 anos quando morreu.
Eventos do Novo Testamento de 30 d.C. a 50 d.C.
Atos é o único livro do Novo Testamento que registra quanto tempo se passou entre a morte de Jesus e sua ascensão: "Depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias" (1:3). O próximo evento importante, após a ascensão de Jesus ao céu, foi o Pentecostes (Atos 2:1). Pentecostes é a palavra em grego para 'quinquagésimo', e se referia a uma celebração da "festa das semanas" (cf. Êxodo 34:22; Deuteronômio 16:9ff) cinquenta dias após a Páscoa. Uma vez que Jesus foi crucificado durante a Páscoa, o Pentecostes de Atos 2:1, durante o qual os discípulos foram enchidos do Espírito Santo (Atos 2:4), ocorreu por volta de cinquenta dias após a crucificação, e dez dias após a ascensão em 30 d.C.
Depois disto, os eventos dos primeiros capítulos de Atos são difíceis de datar, pois não há afirmações precisas a respeito de quanto tempo se passou entre os eventos. Assim, o método habitual para datar os eventos da era apostólica é o seguinte: primeiro, nós procuramos ao menos um evento que pode ser datado com relativa certeza a partir de fontes externas ao Novo Testamento; então, tentamos datar os acontecimentos antes e depois deste evento, calculando quanto tempo se passou entre eles. Às vezes, Atos nos diz quanto tempo passou entre dois eventos; às vezes, não. Portanto, nossa estipulação de datas pode ser apenas aproximada.
Vamos tomar como ponto de partida a "grande fome" que foi profetizada por Ágabo, que acometeu a Palestina durante o reinado do imperador romano Cláudio (Atos 11:28-29). Josefo, um historiador judeu que viveu nessa época, nos dá informações suficientes para que possamos fixar a época da fome entre os anos 46 e 48 (Antiguidades XX, 5, 2). Também sabemos, a partir da Mishná (Sotá vii, 8), que do outono de 47 até o outono de 48 transcorreu um ano sabático, quando os judeus deixavam a terra descansar e não colhiam nada (Levítico 25:2-7). Isto pode ter agravado e prolongado a fome. Mas não há como ter certeza de quando a fome começou; alguns estudiosos dizem que foi no ano 46, e alguns dizem 47.
À primeira vista, parece peculiar que Lucas, o autor de Atos, tenha registrado essa fome (Atos 11:28f) antes de registrar a morte de Herodes Agripa em Atos 12:20-23. Dos fatos reportados por Josefo (Antiguidades XVIII, 6, 10 e 7, 2; XIX 5, 1 e 8, 2), podemos colocar a morte de Herodes (neto de Herodes o Grande, que morreu em 4 a.C.) em 44 d.C, provavelmente na primavera. Isto significa que Herodes morreu diversos anos antes da fome reportada por Lucas anteriormente. Alguns estudiosos pensam que Lucas se enganou em relação aos fatos cronológicos. Mas outros instam que Atos 12:1-24 é uma espécie de 'flashback' para atualizar a história que acontecera com a igreja em Jerusalém. W. L. Knox argumenta que "Lucas está apenas seguindo a prática normal do compilador histórico, trazendo uma fonte histórica até um ponto de parada conveniente, antes de ir para outra fonte... supor que Lucas possa ser acusado com inexatidão em relação à datação demonstra uma completa ignorância quanto aos métodos dos antigos historiadores" (Os Atos dos Apóstolos, 36f).
Uma vez que Herodes morreu em 44 (Atos 12:23), podemos dizer que o apóstolo Tiago, a quem Herodes mandou executar ao fio da espada (Atos 12:2), morreu logo antes de 44, talvez durante a época da Páscoa de 43 (Atos 12:3). A prisão de Pedro e sua fuga miraculosa (Atos 12:3-17) também pertencem a este período.
Agora, voltemos à fome de Atos 11:28f. Os discípulos cristãos de Antioquia decidiram enviar auxílio aos cristãos em Jerusalém, que estavam em meio à penúria (Atos 11:29). Barnabé e Saulo foram designados para levar a ajuda a Jerusalém. Esta seria a segunda visita de Paulo a Jerusalém desde sua conversão. A primeira visita foi registrada em Atos 9:26-30. A terceira seria em Atos 15, quando Paulo e Barnabé foram enviados para discutir com os apóstolos e anciãos se gentios convertidos ao cristianismo precisavam ser circuncidados. As datas em que fixamos a primeira e a terceira visitas a Jerusalém, bem como a conversão de Paulo, dependem de como relacionamos estas visitas a Jerusalém àquelas relatadas na carta de Paulo aos Gálatas.
O problema básico, que ainda divide opiniões de estudiosos do Novo Testamento, é o seguinte: em Gálatas 1:15-2:10, Paulo relata sua conversão e a seguir duas visitas que realizou a Jerusalém, uma delas três anos depois da conversão (1:18) e a outra, catorze anos mais tarde (2:1-10). Todos os estudiosos concordam que esta primeira visita, realizada três anos após sua conversão, é a mesma que a primeira visita registrada em Atos 9:26-30. A grande questão, entretanto, é a seguinte: Gálatas 2:1-10 está se referindo à segunda visita (a da situação de fome) a Jerusalém, em Atos 11:30, e a terceira visita de Atos 15 foi omitida de Gálatas? Ou Gálatas 2:1-10 se refere à visita em Atos 15, e a segunda visita (a da situação de fome) é que foi omitida de Gálatas? Estas duas reconstruções podem ser tabuladas da seguinte forma:
I |
|
II |
||
Atos |
Gálatas |
|
Atos |
Gálatas |
9:26-30 |
= 1:18 |
|
9:26-30 |
= 1:18 |
11:30 |
= 2:1-10 |
|
11:30 |
= omitida |
15:1-29 |
= omitida |
|
15:1-20 |
= 2:1-10 |
Vamos resumir os principais argumentos para cada uma dessas formas de relacionar Gálatas a Efésios. Primeiro, os argumentos para a "Reconstrução I" acima:
1) A razão pela qual Paulo faz um registro tão rigoroso de suas idas e vindas em Gálatas 1:15-24 é para mostrar que ele "não recebeu o Evangelho, nem aprendeu de homem algum" (1:12). Em outras palavras, ele quer demonstrar que suas visitas a Jerusalém foram todas públicas e bem conhecidas por todos, sem o propósito de receber o seu evangelho. Se isto for verdade, então Paulo omitir sua segunda visita a Jerusalém, conforme a "Reconstrução II" acima, seria colocar em risco sua integridade e autoridade com os gálatas. A "Coluna I" evita esta dificuldade, ao igualar Gálatas 2:1-10 com a segunda visita a Jerusalém. A omissão de uma terceira visita na "Reconstrução I" poderia, portanto, ser devida ao fato de que simplesmente ainda não havia acontecido quando Gálatas foi escrito.
2) Gálatas 2:1-10 dá a ideia de uma reunião particular entre Paulo e Barnabé de um lado, e os apóstolos considerados "colunas", de outro. A reunião em Atos 15, entretanto, foi pública, diante de toda a igreja. Então, Gálatas 2:1-10 provavelmente se refere a uma reunião particular na mesma época de Atos 11:30, que o livro não registra.
3) A ansiedade de Paulo para dar aos pobres, mencionada em Gálatas 2:10, relaciona-se naturalmente com a segunda visita a Jerusalém, quando Paulo estava de fato levando auxílio aos pobres (Atos 11:30)
4) Se Gálatas 2:1-10 = Atos 15:1-29, é surpreendente que não haja nenhuma menção quanto à decisão alcançada pelo Concílio de Jerusalém, especialmente por que a decisão relacionava-se diretamente ao problema da circuncisão sobre o qual Paulo estava discutindo em sua carta aos gálatas.
5) Se Gálatas 2:1-10 = Atos 15:1-29, então o Concílio de Jerusalém ocorreu antes do evento de Gálatas 2:11ff, quando Pedro foi repreendido por Paulo, por retirar-se das refeições com cristãos gentios. Será que este incidente poderia ter acontecido tão pouco tempo depois da questão da condição dos gentios ter sido resolvida em Jerusalém?
6) De acordo com Gálatas 1:6, a carta foi escrita "rapidamente", após Paulo ter plantado as igrejas gálatas. Isto faz sentido se Gálatas foi escrito logo após a primeira viagem missionária, e logo antes do Concílio de Atos 15. Isto faria de Gálatas a primeira carta de Paulo.
Agora, passamos a listar os principais argumentos em favor da "Reconstrução II" acima (Gálatas 2:1-10 = Atos 15:1-29).
1) O principal objetivo da visita de Paulo em Gálatas 2:1-10 parece ser o mesmo de Atos 15:1-29: Ambas envolvem a discussão da obrigatoriedade ou não da circuncisão para convertidos gentios (Gálatas 2:3-5; Atos 15:1,5). Uma vez que esta semelhança é bastante óbvia e não há uma similaridade explícita do mesmo porte entre Gálatas 2:1-10 e Atos 11:30, a "Reconstrução II" é mais provável do que a "Reconstrução I".
2) Se a semelhança entre Gálatas, Romanos e 1 e 2 Coríntios quanto à forma e conteúdo faz com que estes escritos pareçam ser do mesmo período - um bom tempo após o Concílio de Jerusalém - então por que Paulo não incluiria nenhuma referência ao Concílio de Jerusalém (Gálatas 2:1-10) em suas recordações, uma vez que a conclusão a que chegou Concílio apoiaria o posicionamento de Paulo quanto à circuncisão, em sua carta aos gálatas?
3) Atos 11:30 mostra Barnabé como o líder da equipe Barnabé/Paulo, uma vez que seu nome aparece primeiro (como em 12:25, 13:1-2, 7 cf. 11:26). Mas na descrição que Paulo faz da visita, em Gálatas 2:1-10, ele enxerga a si próprio como o líder da equipe. Uma vez que Atos apresenta Paulo como líder desde a época da primeira viagem missionária (13:9, 13, 43, 46, 50), incluindo a terceira visita a Jerusalém (15:2), é mais provável que Gálatas 2:1-10 = Atos 15:1-29.
4) Por fim, em Gálatas 2:7-8, Paulo é reconhecido como um apóstolo aos gentios, com uma autoridade semelhante à de Pedro. Mas se Gálatas 2:1-10 = Atos 11:30, e a primeira viagem missionária ainda não havia ocorrido, com base no que os apóstolos "colunas" teriam reconhecido a autoridade de Paulo como apóstolo aos gentios? Não seria mais provável que Gálatas 2:1-10 esteja falando da primeira viagem missionária, assim como Atos 15:1-29 fala desta viagem, e que ambos estejam se referindo ao mesmo evento?
A importância de tudo isto para a cronologia é que, de acordo com a "Reconstrução I", a conversão de Paulo (cf. Gálatas 1:18 e 2:1) acontece 17 anos antes da visita de auxílio à fome em Atos 11:30. Mas de acordo com a "Reconstrução II", sua conversão ocorre 17 anos antes do Concílio de Jerusalém em Atos 15.
Antes de tabelarmos estas duas cronologias possíveis, vamos considerar mais uma data que podemos fixar com alta confiabilidade, que é a chegada de Paulo a Corinto, em sua segunda viagem missionária (Atos 18:1). Na segunda viagem missionária (Atos 15:40-18:22), Paulo e Silas atravessaram a Síria, a Cilícia, a Frígia e a Galácia, visitando as igrejas fundadas na primeira viagem. Eles chegam a Trôade, passam por Filipos e continuam ao longo da costa por Tessalônica e Bereia. Paulo passa por Atenas e chega a Corinto em Atos 18:1. Sabemos por Atos 18:12 que Gálio era procônsul em Corinto na época em que Paulo esteve lá. Uma inscrição descoberta na cidade próxima de Delfos nos traz a informação de que tudo indica que o mandato de Gálio foi de meados de 51 a meados de 52. O incidente registrado em Atos 18:12-17 provavelmente ocorreu no começo do mandato, pois os judeus esperavam conseguir uma decisão contra Paulo do 'novo procônsul'. Pouco depois, Paulo deixou Corinto, possivelmente no verão ou outono de 52. De acordo com Atos 18:11, Paulo permaneceu 18 meses em Corinto, o que significa que ele provavelmente chegou ali durante os primeiros meses de 50, ou no fim de 49. A data de chegada é confirmada por Atos 18:2, que diz que Áquila e Priscila haviam sido há pouco exilados de Roma. O historiador do quinto século Orósio (VII, 6, 15) fixa a data do decreto da expulsão dos judeus de Roma feito por Cláudio como acontecendo no ano 49. Portanto, Paulo, Áquila e Priscila provavelmente chegaram quase juntos, no fim de 49 ou no começo de 50. No começo desta estada de 18 meses, Paulo escreveu sua primeira e segunda cartas aos tessalonicenses.
As duas datas que ainda temos que determinar são 46 ou 47 para a visita da situação de fome em Atos 11:30, e fim de 49/começo de 50 para a chegada de Paulo a Corinto, em Atos 18:1. Levando em conta os intervalos mencionados em Gálatas 1:18 e 2:1, bem como a suposição de que a primeira viagem missionária durou cerca de um ano, podemos tabular as "Reconstruções I e II" da seguinte forma, lembrando de que são datas aproximadas:
I |
|
II |
31 ou 32 |
Conversão de Paulo |
32 ou 33 |
33 ou 34 |
Primeira visita a Jerusalém |
34 ou 35 |
46 ou 47 |
Visita de socorro à fome |
46 ou 47 |
47-48 |
Primeira Viagem Missionária |
47-48 |
48 |
Concílio de Jerusalém |
48 |
Fim de 49 |
Chegada de Paulo a Corinto na Segunda Viagem Missionária - Atos 18:1 |
Fim de 49 |
Outono de 51 |
Paulo deixa Corinto |
Outono de 51 |
(Os cálculos refletem o antigo costume de contar parte de um ano como um ano inteiro.
Eventos do Novo Testamento de 50 d.C. a 70 d.C.
Atos 24:27 descreve um evento que pode nos auxiliar a fixar as datas dos eventos do restante de livro de Atos. Pórcio Festo substitui Félix como procurador da Judéia. Uma análise cuidadosa da evidência fornecida pelo historiador Eusébio (século IV) nos leva à conclusão de que isto provavelmente aconteceu no verão de 59. Olhando para trás a partir desta data, podemos dizer que a prisão de Paulo em Jerusalém (Atos 21:33) ocorreu em 57, portanto, dois anos (Atos 24:27) antes da chegada de Festo. A prisão provavelmente aconteceu no fim da primavera ou no verão de 57, pois sabemos que o objetivo de Paulo em Atos 20:16 era chegar em Jerusalém até o Pentecostes daquele ano, e o Pentecostes era no fim de maio. Paulo estava a pouco tempo na cidade, quando foi preso.
O festival da Páscoa, 50 dias antes do Pentecostes, foi celebrado por Paulo com a igreja de Filipos (Atos 20:6). Isto teria acontecido em 7-14 de abril de 57. Apenas depois disto ele continuou sua viagem apressada até Cesaréia e Jerusalém (Atos 20:6-21:16). Antes de sua visita a Filipos na Páscoa, Paulo havia passado três meses na Grécia (Atos 20:3). Dando a Paulo algum tempo para viajar através da Macedônia (Atos 20:3) e visitar os tessalonicenses e bereianos, estes três meses provavelmente foram no inverno de 56-57 (cf. 1 Coríntios 16:6). Eles foram passados, sem dúvida, em uma das igrejas principais da Grécia, Corinto, e foram usados, em parte, para escrever a carta aos Romanos.
Entre a partida de Paulo de Corinto na segunda viagem missionária (Atos 18:19), no outono de 51, e sua chegada a Corinto, na terceira viagem missionária (Atos 20:2), no fim do inverno de 56, há 5 anos de atividades que não podem receber datas precisas. Paulo diz, em Atos 20:31, que ele trabalhou três desses anos em Éfeso (cf. Atos 19:1-20:1). Se admitirmos tempo suficiente para as viagens antes e depois desta estada em Éfeso, então isto foi de 52 ou 53 até o verão de 55 ou 56 (cf. 1 Coríntios 16:8). Durante sua longa estada em Éfeso, Paulo escreveu sua primeira carta aos Coríntios. Então, a caminho de Corinto, em 56, ele escreveu 2 Coríntios na Macedônia.
Isto traz nossa cronologia de volta à chegada de Festo (Atos 24:27) no verão de 59, depois que Paulo já passara dois anos na prisão em Cesaréia. Após alguns dias, Paulo foi julgado diante de Festo (Atos 25:1-12). Não querendo ser entregue às autoridades judias, Paulo apelou para César (Atos 25:12), o que significou que logo seria levado a Roma. O relato de Atos não parece dar margem à demora, portanto podemos assumir que a viagem (Atos 27:2) começou no verão ou outono de 59.
Lucas registra que, quando Paulo chegou como prisioneiro a Bons Portos, na ilha de Creta (Atos 27:8), as condições do tempo haviam se tornado perigosas demais para a viagem marítima "porque o jejum já havia passado" (Atos 27:9). Um escritor antigo diz que a navegação tornava-se perigosa de meados de setembro a novembro, e depois disso impossível até a primavera. O jejum mencionado era, sem dúvida, o de preparação para o Grande Dia da Expiação, que caiu em 5 de outubro de 59. Portanto, não surpreende que, 14 dias depois de deixar Bons Portos, o navio em que Paulo estava veio a naufragar na costa de Malta, ao sul da Sicília (Atos 27:27-44). Três meses depois, Paulo embarcou novamente para Roma, em um navio que havia passado o inverno em Malta (Atos 28:11). Logo depois, ele foi recebido em Roma pelos cristãos que vieram encontrar-se com ele (Atos 28:15). Portanto, Paulo chegou em Roma no começo de 60. O livro de Atos fecha com a afirmação de que "por dois anos inteiros Paulo permaneceu na casa que havia alugado". O Novo Testamento não registra o resultado do julgamento. Durante este período, de acordo com a visão tradicional, Paulo escreveu Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
Um historiador da igreja do quarto século, Eusébio, escreve: "Diz a tradição que, após realizar sua defesa, o Apóstolo foi enviado novamente ao ministério de pregação, e voltando uma segunda vez à cidade, sofreu o martírio sob Nero" (História Eclesiástica II, 22). Nero, que foi o imperador romano de 54 a 68, executou um grande número de cristãos em Roma logo após o grande incêndio em julho de 64, de acordo com o historiador Tácito (Anais XV, 44). Alguns dos primeiros escritores cristãos (p. ex., 1 Clemente) nos levam a crer que Pedro e Paulo foram mortos em Roma, durante esta perseguição severa. Se isto for verdade, e se Eusébio estiver certo, então Paulo pode ter passado dois anos, de 62 a 64, ministrando livremente na região do Leste outra vez. Muitos estudiosos conservadores colocam a primeira carta de Paulo a Timóteo, e a carta a Tito, neste período. A segunda carta a Timóteo provavelmente foi a última carta que Paulo escreveu de Roma, antes do seu martírio em 64.
Em Jerusalém, três anos após Paulo ter sido levado a Roma, Tiago, o irmão de Jesus, foi apedrejado até a morte pelas autoridades judias. De acordo com Josefo (Antiguidades XX, 9, 197-203), isto aconteceu em 62. Pouco depois, de acordo com Eusébio (História Eclesiástica III, 5, 3), a igreja em Jerusalém recebeu uma profecia, alertando-os a deixar a cidade que estava condenada, e estabelecer-se em Pela, uma das cidades da região das Decápolis a leste do Jordão. Desta forma, quando irrompeu a guerra entre os judeus e os romanos em 66, os cristãos estiveram pouco envolvidos, de forma geral. A guerra acabou em 70, com a destruição de Jerusalém e do Templo (cf. Marcos 13:2; Lucas 21:24).
Podemos, agora, resumir nossos resultados em uma tabela com os principais eventos e as datas aproximadas em que aconteceram.
Evento |
Ano |
Nascimento de Jesus (Mateus 2:1) |
7 a.C. |
Início do ministério público de Jesus (Lucas 3:23) |
27 d.C. |
Morte de Jesus (Marcos 15:37) |
30 |
Pentecostes (Atos 2:1ff) |
30 |
Conversão de Paulo (Atos 9:1-19) |
32 |
Primeira visita de Paulo a Jerusalém (Atos 9:26-30) |
34 |
Morte de Tiago o Apóstolo (Atos 12:2) |
43 |
Segunda visita de Paulo (socorro à fome) a Jerusalém (Atos 11:30) |
47 |
Primeira viagem missionária de Paulo (Atos 13:4-14:28) |
47-48 |
Terceira visita de Paulo a Jerusalém (Concílio) (Atos 15:1-29) |
48 |
Segunda visita de Paulo (socorro à fome) a Jerusalém (Atos 11:30) |
Começo de 50 |
Paulo deixa Corinto (Atos 18:18) |
Outono de 51 |
Estadia de Paulo em Éfeso na terceira viagem missionária |
52-55 |
Paulo passa o inverno em Corinto (Atos 20:3; 1 Coríntios 16:6) |
56-57 |
Paulo celebra a Páscoa em Filipos (Atos 20:6) |
57 |
Paulo chega em Jerusalém e é preso (Atos 21:15ff) |
Meados de 57 |
Paulo é enviado a Roma após dois anos preso em Cesaréia (Atos 24:27, 27:2) |
59 |
Paulo chega em Roma (Atos 28:14) |
Início de 60 |
Paulo vive dois anos em Roma (Atos 28:30) |
60-62 |
Ministério final de Paulo no Leste? |
62-64 |
Martírio de Tiago, irmão de Jesus |
62 |
Martírio de Pedro e Paulo sob Nero |
64 |
Destruição de Jerusalém |
70 |
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