Sobre Divórcio e Recasamento em Caso de Adultério

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Founder & Teacher, Desiring God

Tenho recentemente chegado à conclusão de que a frase de exceção em Mateus 5:32 e 19:09 não se destina a fornecer uma brecha para divórcio e recasamento, quando um dos parceiros comete adultério.

Minha Jornada a Esta Convicção

Comecei, em primeiro lugar, ao ser perturbado pela forma absoluta de denúncia de Jesus sobre divórcio e novo casamento em Marcos 10:11, 12 ("E disse-lhes: 'Quem repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério contra ela, e se essa repudiar seu marido e casar com outro comete adultério contra ele'") e Lucas 16:18 ("Todo aquele que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério, e quem se casar com uma mulher divorciada de seu marido, comete adultério.") que não é preservada por Mateus, se de fato sua frase de exceção é uma brecha para o divórcio e novo casamento. Eu estava incomodado pela simples suposição que tantos escritores fazem de que Mateus estaria simplesmente expondo algo que teria sido implicitamente compreendido pelos ouvintes de Jesus ou os leitores de Marcos 10 e Lucas 16. Será que eles realmente têm assumido que as afirmações absolutas incluíam exceções? Tenho fortes dúvidas e, portanto, minha inclinação é saber se a frase de exceção de Mateus está ou não de acordo com a rigidez de Marcos e Lucas.

A segunda coisa que começou a me perturbar foi a pergunta 'Por que Mateus utiliza a palavra porneia em vez de a palavra moicheia que significa adultério?' Quase todos os comentaristas parecem fazer uma simples suposição de novo, que porneia significa adultério neste contexto. Mesmo que eu esteja pronto a admitir que de vez em quando porneia seja usado no sentido que pode incluir adultério, a questão que me instiga é por que Mateus não usaria a palavra adultério, se é de fato o que ele queria dizer. Então notei algo muito interessante. O único outro lugar além de Mateus 5:32 e 19:9 onde Mateus usou a palavra porneia é em 15:19 onde é utilizada junto com moicheia. Portanto, a evidência contextual primária para o uso de Mateus é que ele concebe porneia como algo diferente de adultério. Poderia significar, então, que Mateus concebe porneia em seu sentido normal de fornicação ao invés de adultério?

A próxima pista em minha pesquisa por uma explicação surgiu quando eu tropecei no emprego de porneia em João 8:41 onde os líderes judeus indiretamente acusam Jesus de ter nascido de porneia. Em outras palavras, já que eles não aceitam o nascimento virginal, eles assumem que Maria tinha cometido fornicação, e Jesus era o resultado desse ato. Com base nessa pista, voltei ao estudo do nascimento de Jesus em Mateus 1:18-20. Foi extremamente elucidativo.

Desvendando um Texto Chave

Nestes versos, José e Maria são referidos uns aos outros como marido (Aner) e mulher (gunaika). No entanto, eles são descritos como sendo apenas noivos um do outro. Isto é provavelmente devido ao fato de que as palavras para marido e esposa são simplesmente homem e mulher, e ao fato de que o noivado era um compromisso muito mais significativo do que é hoje. No versículo 19 José resolve "divorciar-se" de Maria. A palavra para o divórcio é a mesma a palavra de Mateus 5:32 e 19:09. Mas o mais importante de tudo, Mateus diz que José era "justo" em sua tomada de decisão para divorciar-se de Maria, provavelmente por conta de sua porneia, fornicação. Portanto, enquanto Mateus continua a construir o narrativa do seu evangelho, ele se encontra, no capítulo 5 e mais tarde no capítulo 19, em uma situação difícil. Ele tem diante de si os ditos absolutos de Jesus que se um homem se divorcia de sua esposa e casa com outra, comete adultério, isto é, ele comete uma grave injustiça.

No entanto, aquele divórcio que Mateus contemplou com seus leitores no capítulo 1 foi descrito por ele como uma "justa" possibilidade. Portanto, a fim de evitar a inconsistência gritante entre o que ele disse sobre José e o que Jesus diz sobre o divórcio, Mateus insere a cláusula de exceção, a fim de exonerar José e mostrar que o tipo de divórcio que alguém pode perseguir durante um noivado por causa de fornicação, não está incluído no que Jesus tinha dito. Esta interpretação da frase de exceção tem várias vantagens: 1) ela não força Mateus a contradizer o significado claro e absoluto de Marcos e Lucas; 2) fornece uma explicação para o emprego da palavra porneia na frase de exceção de Mateus ao invés de moicheia, 3) enquadra o próprio uso de Mateus da palavra porneia como fornicação em Mateus 5:32 e 19:9) do ponto de vista crítico-redacional é uma edição muito astuta, que promove a verdade do absoluto mandamento de Jesus e a retidão da intenção de José em resolver divorciar-se de sua noiva, Maria.

Um Argumento Final

Há mais uma prova. É geralmente assumido pelos evangélicos que, quando Jesus disse a forma absoluta de seu mandamento, em Lucas 18, por exemplo, ele estava assumindo que o divórcio por causa de adultério era dado como certo e que um dos cônjuges tinha o direito de casar-se novamente quando se divorciasse dessa maneira. Mas é muito forte a evidência em Lucas 16:18 que Jesus não assumia isso, mas de fato contemplou a possibilidade de uma exceção e a rejeitou. Lucas 16:18 diz: "Todo aquele que repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério, e quem se casar com uma mulher divorciada de seu marido, comete adultério." Qual é a situação da mulher na segunda metade deste versículo? Parece-me que, se tomarmos o verso como uma unidade (e não vejo qualquer razão para não fazer isso) a situação é que um homem se divorciou de sua esposa e se casou com outra. Isto é, ele abandonou sua esposa e ilegitimamente foi embora com outra e formou um novo relacionamento matrimonial. Ele cometeu adultério contra sua primeira esposa e a deixou "divorciada". Se a tradicional interpretação da frase de exceção de Mateus está correta, então esta mulher é livre para se casar novamente.

Mas Jesus diz exatamente o oposto na última metade de Lucas 16:18. Ele diz que a mulher que se divorciou não é uma candidata para um novo casamento, porque se um homem se casa com ela, comete adultério. A única maneira de escapar dessa implicação é dizer que as duas metades do versículo não tem nada a ver uma com a outra. Mas contra essa suposição temos a voz ativa da palavra "divórcio" em 18a e da voz passiva da palavra "divórcio" em 18b. Em outras palavras, o verso ilustra um homem divorciado em 18a e uma mulher divorciada em 18b; e parece-me completamente antinatural pensar esta mulher divorciada em 18a e 18b como duas mulheres diferentes.

A força deste argumento tem sido sentida pelos tradutores da NVI em Mateus 5:32. Eles traduzem "todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual (sic!), faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério". O fato de os tradutores inserirem as palavras "a mulher divorciada" mostra que eles acham que mulher na segunda metade do verso é a mesma mulher da primeira metade do versículo. Mas quando chegam a Lucas 16:18, eles simplesmente traduzem, "quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada do seu marido estará cometendo adultério". Por que eles não usam as mesmas palavras "a mulher divorciada" em Lucas 16:18? Acho que o motivo é que assim que eles o fizerem, mostrarão que Jesus considerou a situação de uma exceção em caso de adultério e a rejeitou. Este é, de fato, o caso.

Isso é o que tenho ensinado a minha igreja e não vejo garantias para nada diferente em 1 Coríntios 7.