Como Deus Tem Nos Engrandecido?

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Founder & Teacher, Desiring God

(Este artigo foi extraído de Deus é o Evangelho, páginas 155-162)

A maneira como Deus tem nos engrandecido é criando-nos à sua imagem e chamando esta criação "muito boa." Então, depois da queda, Ele persegue a restauração da imagem caída. Mas Ele vai além de restauração para um novo nível de transformação, ou seja, a conformidade com o Filho de Deus encarnado. "Assim como trouxemos a imagem do terreno, assim também traremos a imagem do celestial." (1 Coríntios 15:49). Nossa transformação à imagem de Cristo procede progressivamente nesta vida, e é aperfeiçoada na ressurreição. A glória de Deus que se obtém desta forma resulta em recebermos louvor de Deus.

Há claras indicações bíblicas desta dignidade notável que Deus livremente e graciosamente nos concede apesar de nossa pecaminosidade. "E criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou. . . E viu Deus tudo o quanto tinha feito, e eis que era muito bom "(Gênesis 1:27, 31). Então, na nossa conversão a Cristo, Deus começa novamente, por assim dizer: "Se alguém está em Cristo, nova criatura é" (2 Coríntios 5:17). "Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para boas obras" (Efésios 2:10). "E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou." (Colossenses 3:10)

O objetivo do trabalho criativo de Deus em seu povo é conformar-nos à imagem de Cristo. "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Romanos 8:29). "E todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem." (2 Coríntios 3:18).

Esta conformidade com Cristo significa que compartilhamos da glória de Deus - ambos espiritualmente e fisicamente. Isso inclui os nossos corpos. Quando Cristo voltar, ele "irá transformar o nosso corpo de abatido para ser como o seu corpo glorioso" (Filipenses 3:21). Paulo chama o que vai acontecer conosco "glorificação": "E aos que predestinou, a estes também chamou, e aos que chamou, a estes também justificou, e aos que justificou, a estes também glorificou" (Romanos 8:30). A glória será intoleravelmente brilhante, e vamos precisar de novos olhos para olhar uns aos outros com prazer, porque "os justos resplandecerão como o sol no Reino de seu Pai" (Mateus 13:43).

Seremos como uma noiva preparada para o seu imaculado marido: "Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para santificá-la. . . para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível "(Efésios 5:25-27). Esta glorificação da noiva de Cristo — filhos de Deus — será tão central para o que acontecerá na nova criação que Paulo diz que o resto da criação irá obter a sua transformação da nossa: "A mesma criatura será libertada da escravidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus "(Romanos 8:21).

O resultado desta transformação incrível será que o próprio Deus irá olhar para nós com prazer e louvor. "O Senhor teu Deus está no meio de ti. . . ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo."(Sofonias 3:17). Pedro diz que a fé provada e refinada dos crentes será encontrada "em louvor, e honra e glória, na revelação de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:7). E Paulo diz do verdadeiro cristão: que seu "louvor não provém dos homens, mas de Deus" (Romanos 2:29) e no julgamento "cada um receberá o louvor (literalmente, o Seu louvor) de Deus" (1 Coríntios 4:5). Sabendo disso, Paulo nos diz que "com perseverança a fazer o bem [devemos ser os que] procuram glória, honra e incorrupção" (Romanos 2:7). E diz dos Tessalonicenses que, por causa do que Deus fez em suas vidas através de seu ministério, que eles serão Sua esperança, alegria e "coroa de glória diante de nosso Senhor Jesus Cristo na sua vinda" (1 Tessalonicenses 2:19).

Veremos Glória e Seremos Gloriosos

Neste sentido, então, podemos falar de Deus nos engrandecendo. Veremos a beleza de Deus e refletiremos a beleza de Deus. Nós veremos glória e seremos gloriosos. Jonathan Edwards coloca isto assim:

Quão feliz é este amor em que há progresso eterno em todas as coisas; em que novas belezas são continuamente descobertas; e mais e mais beleza, na qual iremos eternamente crescer. Quando seremos capazes de descobrir e dar e receber mais e mais expressões cativantes de amor eternamente, onde nossa união se tornará mais próxima e nossa comunhão mais íntima. 1

Ambos ver e ser, aumentarão para sempre: "Novas belezas são continuamente descobertas" em Deus, e "iremos eternamente crescer em beleza em nós mesmos." Uma mente finita não pode conhecer plenamente uma mente infinita. Nossas capacidades finitas por prazer não podem conhecer plenamente toda a alegria que se pode ter em uma fonte infinita. Portanto, o tempo por vir será um aumento eterno de aprendizado e amor.2 Isso significa que a verdade de 2 Coríntios 3:18 nunca cessa. "Refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em gloria." Quanto melhor O vimos, melhor O refletiremos — por toda a eternidade.

Devemos Ser Como Cristo a Fim de Ver a Plenitude da Sua Glória

A pergunta final então é esta: Tem o bem maior, comprado e prometido no evangelho, se tornado como o Cristo glorioso, ou como ver a glória de Cristo? Ou seja, como é que Romanos 8:29 ("os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho") relaciona-se com João 17:24 ("Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste")?

Há uma pista em Romanos 8:29 e sua conexão com Colossenses 1:18. Paulo diz: "Porque os que [Deus] dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Romanos 8:29). Qual é o significado de Paulo dizer "... a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos"? A palavra "primogênito" (prwto, tokon) é importante. É usada novamente em Colossenses 1:18 "Ele é o princípio, e o primogênito (prwto, tokoj) dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência." Em um sentido mais definitivo, Cristo morreu e ressuscitou dentre os mortos como o primogênito de muitos irmãos para que ele pudesse ser visto e apreciado como preeminente, superior, gloriosamente grande.

Em outras palavras, nosso destino de ser como Cristo é em última instância sobre sermos preparados e habilitados para vermos e saborearmos a glória de sua superioridade. Devemos ter o seu caráter e semelhança, a fim de conhecê-lo e vê-lo e amá-lo e admirá-lo da maneira que deveríamos. Ao adicionar as palavras, "a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos", Paulo deixa claro que Cristo é sempre e todo tempo supremo acima de seus irmãos. Torna-mo-nos como ele não apenas para sermos seus irmãos — o que é verdadeiro e maravilhoso — mas principalmente para ter uma natureza totalmente capaz de 'ficar sem palavras' diante dele como aquele que "tem o primeiro lugar em tudo."

Se não tivéssemos palavras como estas no final de Romanos 8:29 e Colossenses 1:18, facilmente poderíamos cair em uma visão antropocêntrica da transformação humana. Nós seríamos tentados a fazer a nossa semelhança a Cristo o objetivo final do evangelho. É uma meta. Uma meta gloriosa. Mas não é o objetivo final. Ver e saborear e mostrar a supremacia de Cristo é o objetivo final.

Um Teste Pessoal Para o Que é Prioridade Absoluta em Nossos Corações

Deveríamos nos testar com algumas perguntas. É correto buscar a semelhança de Cristo. Mas a questão é por quê? Qual é a raiz da nossa motivação? Considere alguns atributos de Cristo que almejamos e faça as seguintes perguntas:

  • Eu quero ser forte como Cristo, para que eu seja admirado como forte, ou para que eu possa derrotar todos os adversários que me seduzirem a me contentar com qualquer prazer, menos admirar a pessoa mais forte do universo, Cristo?
  • Eu quero ser sábio como Cristo, para que eu seja admirado como sábio e inteligente, ou para que eu possa discernir e admirar Aquele que é mais verdadeiramente sábio?
  • Eu quero ser santo como Cristo, para que eu possa ser admirado como santo, ou para que eu possa ser livre de todas as inibições profanas que me impedem de ver e saborear a santidade de Cristo?
  • Eu quero ser amável como Cristo, para que eu possa ser admirado como uma pessoa amável, ou para que eu possa apreciar passar para os outros, mesmo em sofrimento, o amor totalmente satisfatório de Cristo?

A questão não é se teremos toda esta semelhança gloriosa de Cristo. Nós teremos. A pergunta é: Para quê? Tudo em Romanos 8:29-30 — toda a obra de Deus, nos escolhendo, predestinando, chamando, justificando, trazendo à glória final — foi concebido por Deus em última instância não para nos engrandecer, mas para nos libertar e nos preparar para apreciarmos ver e engrandecer a Cristo para sempre.

Não Finalmente Ser e Ver, mas Deleitar e Mostrar

Talvez nós não colocamos a questão da melhor maneira. Ao perguntar se ver a Deus ou ser como Deus é o bem maior do evangelho, podemos ter ficado aquém no que ser e ver significam. Talvez nenhum deles seja o benefício final. Não seria melhor dizer que o benefício final do evangelho, que faz de todos os seus outros componentes boas novas, não é ser ou ver, mas deleitar e mostrar — isto é, deleitar-se em e mostrar "a glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios. 4:6)? Em outras palavras, não é este o caso em que vemos e então nos tornamos (2 Coríntios 3:18, 1 João 3:2), ou nos tornamos e então vemos (Mateus 5:8, 2 Coríntios 4:6), para que, finalmente, possamos deliciar-nos em e mostrarmos a Deus?

Jesus aponta neste sentido pela forma como termina sua oração em João 17. No versículo 24, ele ora para que possamos estar com ele onde ele está, para vermos a sua glória. A ênfase recai sobre o grande dom do evangelho de ver a glória divina. Mas a declaração final da oração de Jesus no versículo 26 é uma promessa que chama a atenção para o deleite que vamos ter em ver essa glória: "E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja."

Esta é uma promessa incrível. Ele não está simplesmente dizendo que nós vamos ver a sua glória, mas que quando o vermos, vamos amá-lo com o mesmo amor que o Pai tem pelo Filho — "... para que o amor com que me tens amado esteja neles. "Este é um amor que consiste de um prazer supremo. O Pai tem infinita alegria na glória do seu Filho. Temos a promessa de participação nesta alegria. Isto significa que, ver e see, por si só, não são o benefício máximo do evangelho. Ver conduz à saborear, ou simplesmente não é boas novas.

A Exibição da Glória de Deus Será Espiritual e Física

E então, por meio deste saborear ou deleitar-se na glória de Deus, vem a exibição. Isso acontece internamente e externamente. Internamente, a emoção de deleite, em si mesmo, magnifica o valor de Deus como nosso tesouro supremo. Deus é glorificado em nós quando estamos satisfeitos nele. Externamente, obras que exaltam a Cristo fluem desta apreciação de Cristo. Tudo o que dissemos no capítulo anterior sobre a importância da criação material torna-se crucial neste momento. Toda a criação, mas especialmente a humanidade redimida, visivelmente e materialmente refletirá e mostrará a glória de Deus. Será físico e espiritual. Tanto a alegria de exaltação de Cristo do nosso coração, quanto as obras de exaltação de Cristo dos nossos corpos ressurretos vão tornar conhecida a glória a Deus.3

Como, então, devemos falar do nosso futuro ser e ver, se eles não são o dom supremo do evangelho? Como havemos de falar sobre "compartilhar a natureza de Deus" (1 Pedro 1:4) e estar "conformados à seu Filho" (Romanos 8:29) e contemplar sua glória (João 17:24)? Como devemos finalmente falar de sermos engrandecidos por Deus?

Uma Onda Interminável de Crescente Revelação da Glória Divina

Ai de nós se falamos de nossa existência, ou do nosso ser, para seu próprio bem. Deus nos deu a existência. É uma grande maravilha, cheia de tremor e temor. Nós existimos por ele, por meio dele, e para ele (Romanos 11:36). O bem supremo e maior do evangelho não é auto-admiração ou auto-exaltação, mas ser capaz de ver a glória de Deus sem se desintegrar, e ser capaz de deliciar-se com a glória de Cristo, com a mesma alegria de Deus Pai para o seu próprio Filho, e ser capaz de fazer visíveis obras que exaltem Cristo e que fluem deste mesmo deleite. Assim ser como Deus é o fundamento de ver Deus por quem ele é, e esse ver é a base de saborear e deleitar-se com a glória de Deus, com a mesma alegria de Deus que, então, transborda com exibições visíveis da glória de Deus.

Desta forma, o evangelho de Deus atinge o seu objetivo final em uma realidade universal e corporativa, e não apenas individual. Uma onda de revelação da glória divina nos santos e na criação é posta em movimento interminável e cresce por toda a eternidade. A medida que cada um de nós vê Cristo e se deleita Nele com o prazer do Pai, mediado pelo Espírito, nós iremos transbordar com ações visíveis do amor e criatividade na nova terra. Assim, veremos a revelação da glória de Deus na vida uns dos outros de maneiras sempre novas. Novas dimensões das riquezas da glória de Deus em Cristo brilharão de nossos novos deleites e novas ações todos os dias. E estas, em retorno, se tornarão novas formas de mostrar e ver Cristo que irão provocar novos deleites e novas ações. E assim, essa onda sempre crescente da revelação das riquezas da glória de Deus transbordará pra sempre e sempre. E tornar-se-á claro que o bem maior e final do evangelho é Deus.4

1 Jonathan Edwards, The "Miscellanies" em The Works of Jonathan Edwards, vol. 13, ed. by Thomas A. Schaefer (New Haven: Yale University Press, 1994), pp 336-337. (Miscellany #198)

2 "Se houver alguma mudança, será pelo seu crescimento, por causa de uma melhor percepção intelectual e de conhecimento de Deus, e das coisas divinas; por causa de uma comunhão constante e cada vez mais cativante com Deus em Cristo; por causa de um aumento na capacidade de contemplar a glória de Cristo e por causa de uma maior exaltação da nação espiritual na adoração e no serviço do Senhor.” James Petigru Boyce, Abstract of Systematic Theology (Escondido, CA: Dulk Christian Foundation, nd, orig. 1887), pp. 475-476.

3 Jonathan Edwards descreveu a relação entre a percepção física e os prazeres e as delícias espirituais em Deus na era por vir depois de termos os nossos corpos ressurretos: "Este prazer da percepção externa irá, em certo sentido, ter Deus como seu objeto, e estará em uma visão da glória exterior de Cristo, e organizado em seu grau e circunstâncias de forma a ser total e absolutamente subordinado a uma visão espiritual daquela glória divina espiritual, da qual esta será um semblante, como representação eterna e subserviente aos superiores deleites espirituais dos santos. Isto é, o corpo será em todos os aspectos um corpo espiritual, e subserviente à felicidade do espírito, e não haverá tendência nenhuma, ou perigo, de irregularidade, ou predominância. Esta glória visível será subserviente num sentido de glória espiritual, como a música de louvores à Deus é ao sentido sagrado e de prazer da mente e, mais imediatamente, pois isto que será visto pelo olho corporal será a glória de Deus, mas aquela música não será tão imediatamente a harmonia de Deus. "The "Miscellanies" em The Works of Jonathan Edwards, vol. 18 ed. by Ava Chamberlain (New Haven: Yale University Press, 2000), p. 351.

4 Estes pensamentos finais também são encontrados de forma ligeiramente diferente em "Lutando por nosso tudo" (Tempo de Colheita, L.P. Ltda.). Tenho uma dívida com Santo Atanásio por agitar em mim estes pensamentos e tenho tentado pagar a dívida no capítulo chamado “Lutando por Cristo Contra Mundum: Exílio e Encarnação na Vida de Atanásio.”.