A Bíblia permite o controle de natalidade?
O ministério Satisfação em Deus e a Bethlehem Baptist Church não tem uma posição formal acerca do controle de natalidade, porém John Piper e a maioria dos pastores da equipe creem que métodos contraceptivos não-abortivos são admissíveis. Em nenhum lugar a Bíblia proíbe o controle de natalidade, quer explícita ou implicitamente, e nós não deveríamos adicionar regras universais que não estejam nas Escrituras (vide Salmo 119:1,9 sobre a suficiência das Escrituras). O que é importante é nossa postura ao usá-las. Qualquer postura que falhe em ver os filhos como boas dádivas dadas por Deus está errada: "Vede, os filhos são um dom de Deus; é uma recompensa o fruto das entranhas. Tais como as flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos gerados na juventude. Feliz o homem que assim encheu sua aljava." (Salmo 127:3-4).
Existem, é claro, alguns cristãos que discordariam dessa posição acerca do controle de natalidade. Algumas das maiores objeções teológicas que tem sido levantadas ao controle de natalidade podem ser categorizadas de acordo com as seguintes questões:
- O controle de natalidade é compatível com a verdade de que os filhos são dádivas do Senhor?
- Não deveríamos deixar que Deus determinasse o tamanho de nossa família?
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O planejamento familiar natural deveria ser preferível à contracepção "artificial"?
O controle de natalidade é compatível com a verdade de que as crianças são dádivas do Senhor?
É muito importante regozijar-se na realidade de que os "filhos são um dom de Deus." Mas alguns vão além e argumentam a partir disso que, uma vez que os filhos são dons de Deus, é errado tomar atitudes que regulem quando e quantos filhos alguém pode ter.
Em resposta a isso, pode-se apontar que as Escrituras também dizem que uma esposa é um dom do Senhor (Provérbios 18:22), mas isso não significa que seja errado permanecer solteiro (1 Coríntios 7:8). Só porque algo é um dom de Deus não quer dizer que seja errado que você administre quando, ou mesmo se, você irá aproveitá-lo. É incorreto pensar que se uma determinada coisa é boa e um dom de Deus, então precisamos persegui-la o máximo possível. Deus fez daqui um mundo no qual temos que fazer escolhas, e nós não podemos fazer plenamente tudo o que existe. Em prol do Reino, pode ser sábio não se casar. E em prol do Reino, pode ser sábio controlar o tamanho da família e regular os momentos apropriados para que a família cresça. Como Wayne Grudem disse, "não há problemas em enfatizar menos algumas boas práticas para focar-se em outras boas práticas."
Quando eu estava ministrando um curso de férias, num seminário na África, um de meu estudantes fez uma observação discernente sobre esse ponto. Primeiramente, ele notou que no registro da criação a ordem para multiplicar-se foi dada junto com a ordem de subjugar a terra: "E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. (Genesis 1:28)." Ele então perguntou como um fazendeiro sabe quanta terra deveria cultivar (ele vivia em uma sociedade primariamente rural). A resposta, obviamente, é que o fazendeiro cultiva o quanto acredita que pode cuidar. Ele não obedece esta ordem como se devesse, então, tornar sua fazenda tão grande quanto lhe for possível naturalmente. Semelhantemente, é correto a um casal procurar ter o número de filhos que acredita ser possível criar à luz das outras vocações que também possam ter em suas vidas. Na mesma linha, Wayne Grudem aponta: "Não somos chamados para aumentar ao máximo o número de filhos que temos, da mesma forma como não somos chamados a subjugar a terra em todo o tempo—plantar, regar, colher, etc."
Na verdade, então, embora seja verdadeiro que é "feliz o homem que assim [com filhos] encheu sua aljava", precisamos compreender que Deus não deu a todos uma aljava do mesmo tamanho. E desta forma, o controle de natalidade é um dom de Deus que deve ser usado para a sábia regulação do tamanho de uma família, assim também como é o meio de procurar ter filhos no tempo que parecer mais apropriado.
Não deveríamos deixar que Deus determinasse o tamanho de nossa família?
Às vezes as pessoas também argumentam que se você realmente quer "confiar que Deus" determinará o tamanho de sua família, então você não deveria fazer controle de natalidade. A premissa parece ser que se você "apenas deixar as coisas acontecerem naturalmente," então Deus estará operando mais do que se você estivesse procurando controlar as coisas e ser um administrador de quando elas devem acontecer. Mas isso certamente está errado! Deus está perfeitamente no controle quer você tenha filhos usando métodos contraceptivos ou não. As mãos do Todo-poderoso não estão amarradas pelo controle de natalidade! Um casal terá seus filhos precisamente no tempo que Deus quiser, quer utilizem-se de métodos contraceptivos ou não. De qualquer modo, portanto, Deus está soberanamente no controle do tamanho da família.
O pensamento "confie em Deus, portanto não use contraceptivos" é baseado na premissa incorreta de que o que acontece "naturalmente" reflete "o melhor de Deus" para nossas vidas, ao passo que o que ocorre através de meios humanos, não. Porque concluiríamos que a forma de deixar Deus decidir o tamanho de nossa família é ficar de lado e simplesmente deixar a natureza seguir seu curso? Certamente não pensamos assim em outras áreas da vida. Não argumentamos, por exemplo, que nunca deveríamos cortar os cabelos para que "Deus decida" o tamanho deles. Fazendeiros não deixam que o vento, simplesmente, faça o plantio de suas safras temendo que sua intervenção sobre o que cresce em suas terras de alguma forma interfira com a provisão que Deus lhes quer dar. E uma família não confia, simplesmente, que Deus irá prover seu alimento esperando que caia do céu, mas, pelo contrário, vai ao mercado para comprá-lo. Deus, em última instância, determina tudo que irá acontecer, tanto na natureza quanto nas decisões humanas, e ele faz com que sua vontade se cumpra através de meios. A atividade humana, portanto, não interfere em seus planos, mas ela mesma é governada por Ele como um meio de executar a Sua vontade. Assim, não deveríamos concluir que o que acontece fora do nosso planejamento é "melhor" e reflete mais adequadamente as vontades de Deus para nós do que o que acontece através do nosso planejamento. Deus frequentemente nos faz planejar como meio para o aperfeiçoamento de nossas vidas e avanço dos propósitos do Seu reino.
Ademais, Deus revelou que é Seu querer para nós que regulemos e governemos a criação para Sua glória (Genesis 1:28). Deus nos tem dado o privilégio da capacidade de fazer escolhas de vida significativas, porque isso exercita a sabedoria e, assim, mostra os frutos que Sua palavra está produzindo em nossas vidas. Quando usamos corretamente a sabedoria divina que Deus nos deu, Deus é glorificado. Ele não quer que simplesmente pensemos que temos que aceitar tudo o que acontece naturalmente, à parte dos nossos esforços, porque assim, nossa sabedoria santificada não é demonstrada. Na verdade, muitas vezes é da vontade de Deus que nós não deixemos simplesmente as coisas acontecerem naturalmente. Voltando à analogia anterior, fazendeiros não colhem, simplesmente, qualquer grão que, porventura, tenha crescido em seus campos, concluindo que "isto é o que Deus quis prover." Ao invés disso, eles vão e plantam os grãos, entendendo que Deus quer prover não apenas através da natureza, mas também pelos meios que empregam para administrar a natureza.
Não é correto, portanto, concluir que o uso de controles de natalidade interfere no papel de Deus em conceder filhos. O controle de natalidade pode ser uma forma de administrar sabiamente o ritmo de crescimento e o tamanho de uma família. Alguém pode ser capaz de trabalhar mais efetivamente para o reino, por exemplo, esperando 3 anos após o casamento para ter filhos, permitindo ao marido que complete seus estudos. E outro pode ser capaz de trabalhar mais efetivamente para o reino decidindo ter 4 filhos ao invés de 15, de forma destinar mais recursos às missões e mais tempo a outras áreas. Se tal planejamento for feito sabiamente e para a glória de Deus, e também continuamente reconhecer que nossos próprios planos não são perfeitos, e que o controle de natalidade não garante nada de forma absoluta, isto é agradável a Deus.
O controle de natalidade demonstra uma falta de fé em Deus?
Sem controlar o tamanho de suas famílias, muitos casais acabariam tendo mais filhos do que poderiam sustentar financeiramente de maneira adequada. Em resposta a isso, alguns dizem que deveríamos simplesmente crer que Deus proverá os meios. Entretanto, não usamos o argumento do "Deus proverá" para justificar os excessos em outras áreas da vida. Não consideraríamos sábio, por exemplo, comprometer o dobro de nossos ganhos anuais com organizações missionárias crendo que Deus irá suprir a quantia extra. Deus espera que tomemos decisões sábias de acordo com o que Ele nos deu, e não presumir que ele nos proverá do nada. Considerações financeiras sensatas são um fator relevante: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8).
O planejamento familiar natural deveria ser preferível à contracepção "artificial"?
Alguns concluem que o "planejamento familiar natural" é aceitável, mas meios "artificiais" não. Isso parece desconsiderar algo significativo: em ambos os casos, você ainda busca controlar quando terá filhos. E assim, se alguém concluir que é errado procurar controlar o ritmo de crescimento e o tamanho da família, então se concluiria que o planejamento familiar natural é tão errado quanto o uso de meios "artificiais". Mas se alguém entende que é adequado administrar o ritmo de crescimento e o tamanho de sua família, então o que torna errados os meios "artificiais", e correto o planejamento familiar natural? Certamente não é porque Deus é "mais livre" para prevalecer sobre os nossos planos através do planejamento familiar natural! Talvez alguns chegaram à conclusão de que meios artificiais são errados porque permitem uma maior separação entre o ato sexual e a possibilidade de procriação. Mas se é errado manter relações sexuais sem uma significativa possibilidade de procriação, então também seria errado manter relações durante a gravidez, ou após a mulher ter passado seus anos de fertilidade. Não há motivos para concluir que o planejamento familiar natural é apropriado, enquanto meios "artificiais" não.
Recursos Adicionais
John e Paul Feinberg, Ethics for a Brave New World ("Ética para o Admirável Mundo Novo"), capítulo 7, "Controle de Natalidade."
Gregory Koukl, "Birth Control and God's Will," ("O Controle de Natalidade e a Vontade de Deus"), previamente disponível em Stand to Reason.
Scott Klusendorf, "Why Pro-life Advocates Should Not Link Abortion to Contraception in Public Debates," ("Porque Defensores Pró-vida Não Deveriam Ligar o Aborto à Contracepção em Debates Públicos"), previamente disponível em Stand to Reason.