Irmãos, o ministério é sobrenatural
Passaram-se dez anos desde a publicação do livro Irmãos, nós não somos profissionais. Nada nos últimos dez anos me fez pensar que esse livro é menos necessário. Na verdade, em vez de diminuir, a pressão para “profissionalizar” o pastorado se transformou e se fortaleceu.
Entre jovens pastores, a conversa é menos sobre profissionalização terapêutica e administrativa, e mais sobre comunicação ou contextualização. A linguagem de “profissionalização” é raramente usada nesse sentido, mas há uma pequena pressão sentida por muitos pastores: ser tão bom quanto os profissionais da mídia, especialmente os anti-heróis bacanas e os comediantes mais sutis.
O novo profissionalismo
Esse não é o profissionalismo exagerado do terno de três peças e dos poderosos escritórios dos andares de cima, mas o profissionalismo discreto de jeans rasgado e do círculo interno dos especialistas. Não se aprende esse profissionalismo após um MBA, mas conhecendo o entretenimento e o mundo midiático em constante mutação. É a profissionalização do ambiente, do tom, da linguagem, do timing e das piadas. É mais intuitivo e menos ensinado. Mais estilo e menos técnica. Mais sentimento e menos força.
Se isso pode ser chamado de profissionalismo, o que tem em comum com a versão antiga? Tudo. A maneira que tentei apontar o problema dez anos atrás foi fazer algumas questões. Permita-me expandir essa lista. Mas dessa vez pense no velho e no novo profissionalismo.
- Existe oração profissional?
- Confiança profissional nas promessas de Deus?
- Choro profissional pelas almas?
- Meditação profissional nas profundezas da revelação?
- Alegria profissional na verdade?
- Adoração profissional no nome de Deus?
- Apreciação profissional das riquezas de Cristo?
- Caminhada profissional no Espírito?
- Exercício profissional de dons espirituais?
- Trato profissional com demônios?
- Argumentação profissional com apóstatas?
- Perseverança profissional em um casamento difícil?
- Brincadeira profissional com os filhos?
- Coragem profissional diante da perseguição?
- Paciência profissional com todos?
Essas não são atividades secundárias na vida pastoral. Elas são vitais.
O coração do Ministério
Por que engasgamos na palavra “profissional” nessas conexões? Porque profissionalização carrega a conotação de uma educação, uma série de habilidades, e uma série de normas definidas que são possíveis sem fé em Jesus ou pelo poder do Espírito de Deus. Profissionalismo não carrega, geralmente, a conotação de ser sobrenatural. Porém o coração do ministério é sobrenatural.
Há um jeito profissional de crucificar. No entanto, não há um jeito profissional para ser crucificado. Havia profissionais no Gólgota. Eles eram experientes em tortura. Porém, Jesus não era um deles. Para Paulo, o ministério era mais como ser crucificado do que crucificar.
“Porque eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6.17). “Estou crucificado com Cristo” (Gálatas 2.19). “Dia após dia, eu morro!” (1 Coríntios 15.31). “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo.” (2 Coríntios 12.10). “Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza… nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus” (2 Coríntios 13.4). “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo … para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Coríntios 2.15-16).
Pastores dizem: “Quem é suficiente para estas coisas?” E, então, eles olham para Deus. Profissionais dizem: “Educação, treinamento e inteligência são suficientes.” E, então, eles olham para os experts.
Apoioando-se em Deus
Pastores não confiam em sua própria eloquência para receber o fruto sobrenatural que eles almejam. “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.” (1 Coríntios 2.4-5). Quaisquer que sejam os dons e eloquência que um pastor tem, qualquer preparo que ele tenha, ele se afasta deles e confia em Deus para qualquer efeito espiritual.
Ele sabe o que procura. E ele sabe que nenhum esforço humano e nenhuma excelência humana podem conquistá-lo. Ele quer que pessoas sejam ressuscitadas da morte (Efésios 2.5). Ele quer pessoas livres da escravidão eterna (2 Timóteo 2.25-26). Ele quer que camelos passem pelo fundo de uma agulha (Marcos 10.25-27). Portanto, a todo momento, ele deseja que “se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (1 Pedro 4.11).
Os objetivos são sobrenaturais, e os meios são sobrenaturais. Conversões e conformidade a Cristo são o dom sobrenatural de servir na força sobrenatural de Cristo. Somente Cristo pode fazer isso. Ministério é descobrir como viver feliz nas mãos poderosas de Cristo ressuscitado.
Este é um apelo aos pastores para colocarem a presença do Espírito Santo, o poder da verdade que exalta Cristo, e a pureza da vida santa acima das considerações pragmáticas de organização e acima da nossa preocupação com um estilo convincente. E se isso soa como uma prescrição para um ministério negligente, medíocre, perturbado, veja meu próximo texto: “Irmãos, sobrenatural não significa estúpido”.
Irmãos, o ministério é sobrenatural.