Entre a Resignação e o Triunfalismo

Achando o lugar seguro entre a presunção e a paralisia

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Founder & Teacher, Desiring God

Na segunda-feira de manhã, eu estava me deleitando, por alguns minutos, com a leitura de Santidade, Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor... escrito por J. C. Ryle.1 Li estas palavras:

Todas as coisas estão envelhecendo. O mundo está envelhecendo. Nós mesmos estamos envelhecendo. Mais alguns invernos, mais alguns verões, mais algumas enfermidades, mais algumas aflições, mais alguns casamentos, mais alguns falecimentos, e... o que acontecerá? A grama crescerá sobre os nossos túmulos!

Às vezes, isto é um grande consolo; às vezes, uma grande ameaça. Depende muito da maneira como somos dominados pelas inquietações da vida ou como somos revigorados com os desafios da vida.

Oscilamos entre dois erros: a resignação e o triunfalismo. A resignação possui em si mesma uma verdade, mas não é o caminho de Deus. A brevidade da vida, a obscuridade de nossos labores, a insignificância de nossa influência, a fraqueza de nossas capacidades, os desapontamentos de sonhos frustrados, o deboche incessante de nossa cultura — todas essas coisas nos fazem anelar pelo céu e pelo fim de nossa milícia. Por isso, nos damos à resignação e perdemos as energias para a obra que temos às mãos.

O triunfalismo também possui em si mesmo uma verdade, mas tam- bém não é o caminho de Deus. Alguns sucessos de nossos labores, ou um encorajamento oportuno de uma pessoa respeitada, ou o surgimento de um movimento correto em algum lugar do mundo, ou a absolvição de um famoso líder cristão, ou a boa avaliação da saúde por parte de um médico, ou uma linda manhã de primavera, ou uma nova amizade — tudo isso pode nos encher com um senso tão grande das possibilidades, desafios e estímulos da vida, que caímos num esquecimento triunfalista de que somos pó. Nossa perspectiva é profundamente limitada; nossa importância no mundo é relativamente pequena; nosso tempo é breve; e a igreja, missões e o reino de Deus são todos capazes de sobreviver, quando morrermos e formos esquecidos.

Nem a resignação nem o triunfalismo é um lugar seguro para vivermos e ministrarmos. Minha oração em favor dos crentes ao redor do mundo e de minha própria igreja é que Deus nos mostre com clareza em que ponto estamos nesta oscilação e que Ele nos mova ao lugar em que devemos estar. E onde é esse lugar? Um lugar de fé profunda em duas verdades bíblicas que se completam:

Verdade 1. “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso [quando nosso coração presume grandes planos para o futuro], devíeis dizer [humildemente]: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.14-15).

Verdade 2. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos... E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.18-20). “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gálatas 6.9).

Entre a presunção e a paralisia — é neste ponto que precisamos aprender a viver. Todos nós tendemos a uma ou a outra destas atitudes. E, em épocas diferentes de nossa vida, tendemos a extremos diferentes. Os jovens possuem uma tendência, os velhos, outra. Uma cultura se inclina para um lado, e outra cultura, para outro lado. Conheça os seus excessos naturais e exerça pressão para o lado oposto. Deus o ajudará. Ele dá forças e descanso. Ele dá paixão e quietude de alma. “Entrega o teu caminho ao senhor, confia nele, e o mais ele fará” (Salmos 37.5).

1 Ryle, J. C., Santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. Editora Fiel, São José dos
Campos, SP., 1997.