Em Busca de Repouso
Nesta época do ano, às cinco horas da manhã de um domingo, o mundo não está às escuras, mas ainda não há qualquer cor. Tudo é preto, branco e cinza, exceto a luz de cor laranja que brilha sobre a garagem, à frente da rua, e se reflete pela janela de meu quarto. Não há brisa, e as folhas das árvores são vistas como uma foto na quietude. As estrelas já se foram, mas o sol ainda não despontou. Portanto, não podemos dizer se o céu cinzento é claro ou nublado. Logo saberemos.
Sento-me na beira da cama para tentar desenvolver uma teologia do sono. Por que Deus planejou que dormíssemos? Dormimos um terço de nossa vida. Pense nisto: um terço de nossa vida gasto como uma pessoa morta. Pense em todas as coisas que deixamos de fazer e que poderiam ter sido feitas, se Deus não tivesse idealizado que precisamos dormir. Não há dúvida de que Ele poderia nos ter criado sem a necessidade do sono. E como isto seria admirável: todas as pessoas poderiam se dedicar a duas carreiras e não se sentiriam cansadas. Todo crente poderia ser um “obreiro de tempo integral” e ainda manter sua carreira secular. Há tantas coisas que poderíamos fazer na obra de nosso Pai.
Por que Deus imaginou o sono? Ele nunca dorme! Deus teve essa idéia a partir do nada. Ele pensou no sono para as suas criaturas terrenas. Por quê? Salmos 127.2 afirma: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem”. De acordo com este versículo, o sono é um dom de amor, mas esse dom é freqüentemente desprezado pelo trabalho repleto de ansiedade. O sono tranqüilo é o contrário da ansiedade. Deus não quer que seus filhos se tornem ansiosos, e sim que confiem nEle. Então, chego à conclusão de que Deus fez o sono como uma recordação permanente de que não devemos ficar ansiosos, e sim descansar nEle.
O sono é instrumento da parte de Deus para recordar-nos, todos os dias, que não somos Deus. “É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel” (Salmos 121.4). Mas nós dormimos, pois não somos Deus. Uma vez por dia, Deus nos manda para a cama, como pessoas tomadas por uma doença. A doença é uma tendência crônica de pensarmos que estamos no controle e de que nosso trabalho é indispensável. Para nos curar dessa enfermidade, Deus nos torna em sacos de areia uma vez por dia. Quão humilhante para aquela pessoa que, por esforço pessoal, se tornou diretor de uma grande empresa é o fato de que ela tem de abandonar todo o controle e tornar-se tão frágil como uma criança que mama, todos os dias.
O sono é uma parábola de que Deus é Deus e de que somos apenas homens. Deus controla muito bem o mundo, mesmo enquanto um hemisfério dorme. O sono é como um disco riscado que repete a mesma mensagem todos os dias: o homem não é soberano... o homem não é soberano... o homem não é soberano. Não perca esta mensagem. Deus quer que confiemos nEle como o Grande Trabalhador, que nunca se cansa e nunca dorme. Deus está mais interessado em nossa confiança tranqüila, que lança sobre Ele todas as nossas ansiedades e dorme, do que nas noites mal dormidas e nas madrugadas em que acordamos cedo. “Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia” (Salmos 147.10, 11).